Jesus não foi um estranho ao povo de Israel. Pelo contrário, nasceu judeu, viveu entre os judeus e dirigiu seu ministério, primeiramente, a eles. Mesmo assim, o Evangelho de João nos surpreende com uma afirmação dolorosa e impactante: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (João 1:11). Como pode o povo que esperava há séculos pelo Messias rejeitar justamente aquele que os profetas anunciaram? Neste artigo, vamos mergulhar nessa questão, buscando respostas nas Escrituras, nas profecias de Isaías e na história da rejeição de Jesus, e entender por que ainda hoje muitos judeus esperam um Messias que, para nós, já veio.
- O Evangelho de João e a Rejeição de Jesus
João inicia seu Evangelho com um prólogo teológico poderoso. Ao dizer que “os seus não o receberam”, ele denuncia a cegueira espiritual daqueles que, mesmo conhecendo a Torá e os Profetas, recusaram reconhecer em Jesus o cumprimento das promessas messiânicas.
A segunda parte do versículo, no entanto, traz uma esperança que transcende a rejeição:
> “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (João 1:12).
Essa graça é estendida a todos — judeus e gentios — que recebem Jesus com fé. Mas por que, afinal, os “seus” não o receberam?
- A Profecia da Rejeição: Isaías 53 e Outras Passagens
Séculos antes do nascimento de Jesus, o profeta Isaías já havia descrito o sofrimento e a rejeição do Messias com uma precisão impressionante:
> “Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor?” (Isaías 53:1)
“Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores, e experimentado nos trabalhos…” (Isaías 53:3)
Além de Isaías, outros textos proféticos apontam para essa rejeição:
Salmos 118:22 – “A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina.”
Isaías 8:14-15 – “E ele vos servirá de santuário; mas servirá de pedra de tropeço e rocha de escândalo às duas casas de Israel…”
Zacarias 12:10 – “E olharão para mim, a quem traspassaram…” – uma profecia que ecoa o evento da crucificação.
- Expectativa Versus Realidade: O Messias que Muitos Não Esperavam
Os líderes religiosos esperavam um Messias político, guerreiro, alguém que libertasse Israel do domínio romano. Mas Jesus veio como o “Cordeiro de Deus” (João 1:29), não como um guerreiro. Ele não conquistou tronos terrenos, mas corações. Por isso, foi mal compreendido e rejeitado.
O teólogo F. F. Bruce observa:
> “Os líderes judeus da época viam Jesus como uma ameaça à ordem religiosa. Ele desafiava tradições humanas e apontava diretamente para o coração de Deus.”
Já Michael Brown, especialista em apologética messiânica, diz:
> “Isaías 53 é o calcanhar de Aquiles da teologia judaica moderna. É impossível ler esse texto honestamente e não ver ali o retrato de Jesus.”
(Fonte: “Answering Jewish Objections to Jesus” – Michael L. Brown)
- E Hoje? Os Judeus Ainda Esperam o Messias?
Sim. O judaísmo ortodoxo ainda aguarda a vinda de um Messias que:
Reconstruirá o Templo em Jerusalém;
Reunirá os judeus dispersos;
Estabelecerá a paz mundial.
Como Jesus não cumpriu esses critérios em sua primeira vinda (pelo menos não de forma literal e imediata), muitos judeus não o reconhecem como Messias. No entanto, os cristãos entendem que essas profecias se cumprirão plenamente na segunda vinda de Cristo, como descrito em Apocalipse 19 e 21.
Conclusão
Jesus foi rejeitado, sim — mas não por todos. Muitos creram nele, muitos ainda creem. E como João escreveu, “a todos quantos o receberam…” — ainda hoje essa promessa está de pé. As profecias não falharam. O Messias veio, sofreu, morreu e ressuscitou. Isaías 53 não é uma poesia sobre o sofrimento de um povo, mas a descrição do maior ato de amor da história: Deus se entregando por nós.
É triste ver que até hoje muitos fecham os olhos para essa verdade. Mas enquanto houver tempo, haverá oportunidade. E nós, como filhos da luz, temos o dever de proclamar: o Messias prometido já veio — e virá outra vez.
Pastor Luciano Gomes, teólogo