Pr. Luciano Gomes

O sábado na lei de Moisés: Da pena de morte à graça em Cristo.

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Introdução

Entre os muitos mandamentos entregues por Deus a Israel, a guarda do sábado ocupa um lugar singular. Mais do que um simples dia de descanso, o sábado era um sinal visível da aliança entre Deus e o Seu povo. No entanto, ao estudarmos as Escrituras, encontramos um elemento que para muitos é chocante: quem violasse o sábado na Antiga Aliança poderia ser condenado à morte. Por quê? E por que hoje, sob a Nova Aliança, essa punição não se aplica mais? Este estudo se propõe a responder essas perguntas com base nas Escrituras e na teologia bíblica.

A Santidade do Sábado na Lei de Moisés

A primeira menção clara sobre o sábado como um mandamento está em Êxodo 20:8-10, no próprio Decálogo:

 “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha…”

Contudo, em textos posteriores vemos que o sábado era muito mais do que descanso físico — era um sinal da aliança:

“Certamente guardareis os meus sábados; porquanto isso é sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica.”

(Êxodo 31:13)

Desrespeitar o sábado, portanto, era profanação direta da aliança, uma espécie de infidelidade espiritual.

A Punição para Quem Violava o Sábado

A severidade da pena é clara:

 “Aquele que o profanar certamente morrerá; qualquer que nele fizer algum trabalho, aquela alma será eliminada do meio do seu povo.”

(Êxodo 31:14)

“Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do descanso solene, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer algum trabalho, certamente morrerá.”

(Êxodo 31:15)

O texto é direto: a violação do sábado era punida com pena de morte. Essa morte, no entanto, não era por um ato sobrenatural direto de Deus, mas sim pela execução da justiça comunitária, como vemos no único caso registrado nas Escrituras:

O Caso do Homem que Apanhava Lenha

O único exemplo explícito de alguém punido com morte por violar o sábado aparece em Números 15:32-36:

“Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado… Disse o Senhor a Moisés: Certamente morrerá o tal homem; toda a congregação o apedrejará fora do arraial.” (Números 15:32-36)

A pena foi o apedrejamento, aplicado por toda a congregação, fora do arraial. Isso tinha um valor simbólico e pedagógico: preservar a santidade do povo e lembrar que o pacto com Deus não era algo trivial.

O Princípio do Pecado Deliberado

Logo após esse episódio, o texto continua com uma advertência importante:

“Mas a alma que fizer alguma coisa à mão levantada… essa blasfema contra o Senhor; essa alma será eliminada do meio do seu povo.”

(Números 15:30)

A ideia do pecado “de mão levantada” indica transgressão intencional e desafiadora, o que revela o coração rebelde — mais do que um simples erro.

E por que hoje ninguém morre por quebrar o sábado?

Aqui está a chave da compreensão espiritual. Com a vinda de Jesus, inaugura-se uma Nova Aliança, superior à antiga, como declara o autor de Hebreus:

“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas.”

(Hebreus 8:6)

Cristo cumpriu perfeitamente toda a Lei (Mateus 5:17). E a justiça que antes era exigida por meio de ritos e penas, agora foi plenamente satisfeita na cruz:

 “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele…”

(Isaías 53:5)

O sábado, que antes era um sinal externo, tornou-se um símbolo do descanso interior que temos em Cristo:

“Portanto, resta ainda um repouso sabático para o povo de Deus… pois aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou das suas obras, como Deus das suas.”

(Hebreus 4:9-10)

Conclusão

A morte do homem que colheu lenha no sábado é um retrato vívido de quão sério era o pacto entre Deus e Israel. A quebra do sábado não era apenas uma infração civil, mas uma violação espiritual contra o Deus que santificava o povo. No entanto, em Cristo, a punição que era nossa foi lançada sobre Ele. Hoje, não morremos pela transgressão da Lei porque Jesus já morreu por nós.

A graça não nos isenta da santidade, mas nos convida a uma obediência mais profunda — não movida pelo medo da morte, mas pelo amor ao Salvador que cumpriu a Lei por nós.

Pastor Luciano Gomes, Teólogo.

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