O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e delator em investigações sensíveis, voltou ao centro da polêmica após a Revista Veja divulgar novos indícios de que ele teria violado as regras impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a publicação, Cid teria utilizado um perfil alternativo no Instagram, identificado como @gabrielar702, para manter contato com aliados e interlocutores durante 40 dias, mesmo estando proibido de acessar redes sociais.
Segundo a reportagem, mais de 200 mensagens teriam sido trocadas por meio dessa conta, que também teria sido usada para realizar chamadas de áudio e vídeo, compartilhar fotos pessoais e enviar links de notícias críticas ao STF.
Desabafo e medo constante da PF
Em uma das mensagens obtidas, Cid demonstra profundo abalo emocional, relatando noites mal dormidas por temer uma nova operação da Polícia Federal. “Eu só durmo por exaustão… E às 5:00 já acordo esperando a PF…”, teria escrito.
Ele também demonstrou insatisfação com o andamento de sua delação premiada e chegou a manifestar o desejo de se pronunciar publicamente. “Estou me coçando para dar uma entrevista”, declarou.
Estratégia jurídica e frustração com o processo
As mensagens revelam detalhes da estratégia adotada por seus advogados, Cezar Bitencourt e Jair Alves Pereira. Um dos trechos mostra Cid comentando sobre a possibilidade de uma pena de dois anos, como alternativa à expulsão do Exército Brasileiro.
“Já tenho quatro meses de fechado, seis de domiciliar…”, disse ele, revelando que seus defensores avaliam a situação como um embate mais político do que jurídico.
Gravação vazada expõe bastidores dos depoimentos à PF
Além das mensagens, a reportagem destaca o vazamento de um áudio no qual Mauro Cid descreve a dinâmica dos depoimentos prestados à PF. No trecho, ele relata interrupções constantes durante os interrogatórios e expressa frustração com as informações cobradas pelos investigadores, dizendo que os detalhes exigidos muitas vezes não faziam sentido para ele ou já haviam sido esquecidos devido à rotina intensa.
Mentira pode comprometer a delação
A situação se agrava porque, em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes no STF, Cid teria negado uso de redes sociais durante o período em que esteve proibido, o que, se comprovado, pode comprometer todo o acordo de colaboração premiada. Como colaborador, ele tinha o dever legal de manter a veracidade em suas declarações.
A revelação de que Cid pode ter mantido uma narrativa dupla – colaborando com a Justiça e, ao mesmo tempo, transmitindo outra versão dos fatos a pessoas próximas – acende o alerta sobre a validade e confiabilidade da delação.
Interrogatório no STF levanta dúvidas sobre perfil suspeito
Durante o interrogatório, o advogado Celso Vilardi, representante do ex-presidente Jair Bolsonaro, questionou Cid diretamente sobre o perfil @gabrielar702. Em resposta, ele alegou desconhecimento: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Defesa nega envolvimento e fala em “fake news”
Em nota enviada ao STF, a defesa de Mauro Cid repudiou as informações divulgadas pela Veja, classificando o conteúdo como “uma miserável fake news”. Os advogados sustentam que o perfil citado não pertence a Cid nem tem relação com sua esposa, Gabriela.
Diante da repercussão, os advogados solicitaram ao STF que determine uma investigação sobre a origem e controle do perfil, o que foi prontamente aceito pelo ministro Alexandre de Moraes.
Conclusão
As novas revelações lançam mais dúvidas sobre a credibilidade da delação de Mauro Cid e reacendem discussões sobre possível quebra de confiança com a Justiça. Se as irregularidades forem confirmadas, Cid poderá perder os benefícios judiciais obtidos e seu acordo de colaboração poderá ser anulado.