A recente polêmica envolvendo o adolescente Miguel Oliveira, conhecido nacionalmente como “profeta mirim”, trouxe à tona uma discussão importante dentro do meio evangélico: os perigos da exposição precoce, a negligência pastoral e a ausência de paternidade espiritual. Quem levantou a voz com coragem e responsabilidade sobre o tema foi o pastor e terapeuta familiar Josué Gonçalves, que fez um alerta sério à igreja brasileira.
Miguel, de apenas 15 anos, teve sua participação suspensa em cultos e eventos por determinação do Conselho Tutelar, o que gerou grande repercussão nas redes sociais. No entanto, para o pastor Josué Gonçalves, a discussão vai além da proibição. O problema é estrutural.
“Imaturidade não é pecado, mas também não é unção”, diz Josué
Segundo o pastor, “um garoto de 15 anos está em plena formação emocional, cognitiva e espiritual”. E embora ele, e muitos o tenham aclamado como “profeta”, isso representa um peso perigoso para qualquer adolescente.
“Chamar Miguel de profeta é atribuir a ele uma carga que nem adultos maduros conseguem sustentar com equilíbrio”, pontuou.
Falhas da liderança e negligência pastoral
Josué Gonçalves não hesita em afirmar que houve falha da liderança:
“Liberar púlpitos para adolescentes sem preparo bíblico e psicológico é negligência espiritual. A liderança errou”, declarou.
Para ele, não se trata de reprimir dons espirituais, mas de reconhecer os limites do amadurecimento e o processo necessário para o desenvolvimento saudável de qualquer chamado.
Emoção não é sinônimo de unção
Outro ponto crítico abordado por Josué é a tendência de muitas igrejas de confundirem emoção com presença de Deus. “Gritos, frases de efeito e dramatizações viram espetáculo, não edificação”, alertou.
Onde estão os pais?
O pastor questionou diretamente a ausência de paternidade — tanto biológica quanto espiritual — no caso de Miguel. “Pais maduros orientam, corrigem e protegem os filhos da exposição precoce”, disse. Para ele, a família tem papel fundamental na proteção do adolescente contra os perigos da fama e da superexposição.
Igreja não é palco de entretenimento
De forma contundente, Josué declarou: “A igreja não é palco de estrelismo. Crianças e adolescentes devem ser discipulados, não transformados em atrações itinerantes”.
Segundo ele, a fama corrompe quando a raiz não é sólida, e a exposição pública sem estrutura pode levar à queda.
Chamado não é atalho para autoridade
Ele também reforçou que o chamado de Deus exige tempo de formação. Citando o profeta Samuel, que ouviu a voz de Deus ainda criança, Josué lembra que o próprio Samuel teve que ser orientado. “Dom precisa ser lapidado”, concluiu.
Igrejas carentes de profundidade
Na visão do pastor, a atual busca desenfreada por “novidades espirituais” nas igrejas revela uma crise de profundidade teológica e pastoral. “A sede por mover os novos faz líderes negligenciarem critérios bíblicos de maturidade”, lamentou.
Miguel precisa ser acolhido, não cancelado
Encerrando sua fala, Josué Gonçalves defendeu que Miguel Oliveira não deve ser descartado. Pelo contrário, ele precisa ser discipulado com amor e firmeza:
“A dor de hoje pode ser a voz de amanhã, se houver correção.”
Quem é o Pastor Josué Gonçalves?
Reconhecido nacionalmente, Josué Gonçalves é terapeuta familiar há mais de 30 anos, pastor sênior da Igreja Família Debaixo da Graça e autor de 23 livros, incluindo o best-seller “104 Erros que um Casal Não Pode Cometer”, com mais de 200 mil cópias vendidas. É também o fundador do Ministério Família Debaixo da Graça e realiza conferências no Brasil e em países como EUA, Japão, Portugal, Alemanha e outros.
A reflexão proposta pelo pastor Josué Gonçalves vai muito além do caso Miguel Oliveira. Ela lança luz sobre o adoecimento silencioso de uma parte da igreja contemporânea: a pressa por resultados, o despreparo de líderes e a infantilização espiritual disfarçada de “avivamento”. Para Josué, ainda é tempo de corrigir a rota — com amor, firmeza e discipulado sério.