O lobista Andreson de Oliveira Gonçalves está sendo investigado por suspeita de intermediar decisões judiciais favoráveis no Superior Tribunal de Justiça (STJ), cobrando quantias milionárias. Interceptações telefônicas sugerem que Gonçalves cobrava por decisões de alto valor, com indícios de envolvimento de funcionários de ministros do tribunal. A investigação é conduzida pela Polícia Federal e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), conforme apurado pelo portal UOL.
Acusações e valores milionários
Em uma conversa de 29 de abril de 2020, Gonçalves mencionou um processo da ministra Nancy Andrighi, no qual teria recebido R$ 19 milhões para obter uma decisão positiva. “Mais um cliente feliz”, afirmou o lobista, referindo-se à decisão favorável em uma disputa empresarial da J&F Investimentos envolvendo a Eldorado Celulose. Essa disputa, iniciada por uma empresa do Mato Grosso do Sul, visava anular aquisições que teriam reduzido a participação acionária do grupo regional.
Envolvimento de familiares e desdobramentos no STJ
A esposa de Andreson, Mirian Ribeiro Gonçalves, atuou como advogada da J&F em processos no STJ desde 2020. Embora ela não tenha detalhado seu papel específico na disputa da Eldorado Celulose, sua atuação em outros casos do grupo levanta suspeitas de possível envolvimento no esquema.
Em uma decisão posterior, a ministra Nancy Andrighi anulou uma ordem do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, transferindo a disputa para a Vara Empresarial de São Paulo, atendendo ao pedido da J&F. Andrighi explicou que a decisão seguiu os termos do contrato entre acionistas, que determinava São Paulo como foro para resolução de conflitos.
A J&F declarou que venceu o caso de forma unânime na Segunda Seção do STJ, afirmando que não autorizou terceiros para representá-la nos processos judiciais.
Novas denúncias: mais ministros e decisões sob suspeita
Outra conversa interceptada revela que Gonçalves teria cobrado R$ 3 milhões por uma decisão favorável do STJ, desta vez envolvendo a ministra Isabel Gallotti, que beneficiou um produtor rural em um processo de recuperação judicial. Além de Andrighi e Gallotti, as investigações apontam possíveis envolvimentos de assessores ligados aos ministros Og Fernandes, Paulo Moura Ribeiro e Antônio Carlos Ferreira. Suspeita-se que a Florais Transportes, de propriedade de Gonçalves, tenha sido utilizada para a movimentação financeira e pagamento de vantagens a membros do tribunal.
Novas evidências em caso de homicídio
Parte das mensagens suspeitas foram recuperadas a partir do segundo chip de um celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023. O material foi repassado à Polícia Federal, com conteúdo indicando um possível esquema de corrupção que inclui esboços de decisões ainda não publicadas e menções a ministros do STJ.
A investigação começou na primeira instância, com foco nos assessores de ministros. Porém, o caso foi transferido ao Supremo Tribunal Federal (STF) após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificar movimentações financeiras suspeitas envolvendo uma autoridade com foro privilegiado. O ministro Cristiano Zanin, relator do caso, enviou o material para análise do procurador-geral da República, Paulo Gonet, para que os próximos passos da investigação sejam definidos.
Defesas e manifestação da ministra Nancy Andrighi
A defesa de Andreson Gonçalves e de sua esposa, Mirian Ribeiro Gonçalves, afirmou que não teve acesso às mensagens interceptadas nem ao conteúdo do inquérito, declarando que o celular de Zampieri deveria ser investigado apenas no contexto do homicídio. Já a ministra Nancy Andrighi reafirmou a legalidade de sua decisão, explicando que ela se baseou no contrato entre acionistas.
“É de extrema importância que todas as denúncias sejam apuradas. Meu gabinete está à disposição para colaborar na investigação e esclarecimento dos fatos”, declarou Andrighi. Ela ainda destacou que confia no trabalho do STJ e das autoridades para elucidar o caso e responsabilizar, de forma exemplar, os envolvidos.