O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece decidido a desafiar a lógica econômica, ignorando lições históricas sobre os efeitos devastadores da irresponsabilidade fiscal. Em vez de adotar medidas contundentes para enfrentar as turbulências econômicas, a administração segue flertando com políticas inconsistentes, enquanto o mercado reage com descrédito e severidade. A escalada do dólar, o aumento nos juros futuros e a desconfiança generalizada entre investidores são apenas os sintomas mais visíveis de uma gestão que parece mais preocupada com narrativas do que com resultados.
Nesta quarta-feira (18), o dólar atingiu R$ 6,13, um recorde que não foi atenuado nem mesmo pela injeção de US$ 4,6 bilhões pelo Banco Central em leilões cambiais. Na última terça-feira (17), a moeda norte-americana chegou a tocar R$ 6,20, recuando apenas após a promessa de Arthur Lira (PP-AL) de acelerar a votação da PEC do pacote de corte de gastos. Ainda assim, o sinal enviado foi claro: os investidores não confiam no compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.
E não é para menos. As propostas apresentadas pelo Planalto, além de frágeis, têm sido desidratadas por deputados da própria base aliada, especialmente do PT. Isso evidencia uma desconexão entre a retórica do ajuste e a prática política, aprofundando o ceticismo do mercado. Afinal, como acreditar em uma gestão que parece sabotar suas próprias medidas de austeridade?
O mercado, é importante destacar, não se move apenas pelos indicadores econômicos do presente, mas pelas expectativas futuras. E, neste ponto, o governo falha em transmitir segurança. Ao minimizar a gravidade da situação e acusar os investidores de atuarem de forma orquestrada por motivações políticas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contribui para a construção de um “universo paralelo” onde as consequências das escolhas econômicas são ignoradas. Essa postura é não apenas imprudente, mas perigosa.
O impacto dessa desvalorização cambial é evidente e devastador. O câmbio elevado já acelera a inflação ao produtor e na construção civil, atingindo 6% no acumulado de 12 meses. Em breve, esse aumento chegará ao consumidor, prejudicando diretamente as famílias, especialmente as mais vulneráveis. Paradoxalmente, essas são as pessoas que o governo afirma priorizar em sua agenda social.
Para entender a gravidade da situação, é útil fazer um comparativo com momentos de crise recentes. Durante a pandemia de Covid-19, quando o mundo enfrentava uma das maiores incertezas econômicas da história recente, o dólar atingiu picos de R$ 5,90 em 13 de maio de 2020 e R$ 5,97 no dia seguinte. Esses valores, apesar de altos, ocorreram em um cenário de calamidade global. Em 22 de abril de 2022, ainda sob reflexos da pandemia, o dólar estava cotado a R$ 4,8061. Agora, em um contexto sem pandemia, o dólar rompeu os R$ 6,00, demonstrando que a atual política econômica é incapaz de gerar a confiança mínima necessária para evitar uma nova deterioração.
A teimosia em “brincar com fogo”, na expectativa de que o mercado se ajuste por si só, revela um descaso com os fundamentos econômicos. Desde o fim do ano passado, quando o dólar estava cotado a R$ 4,90, a moeda já se desvalorizou significativamente, refletindo a incerteza gerada pela mudança unilateral das metas fiscais de 2025 e 2026, sem explicações convincentes. Essa falta de transparência e compromisso só agrava a situação.
Por fim, a obsessão do governo em mirar o pleito de 2026, ignorando os efeitos da inflação sobre os mais pobres, é um erro estratégico grave. A alta dos preços corrói o poder de compra, aprofunda as desigualdades e ameaça minar a base de apoio político que o PT sempre reivindicou como sua. Se o Planalto não despertar para a realidade, a conta será paga não apenas pelos brasileiros, mas também nas urnas.
É urgente que o presidente Lula e sua equipe econômica abandonem as fantasias e enfrentem os desafios com responsabilidade. Sem isso, o Brasil continuará refém de um ciclo de instabilidade que pune os mais vulneráveis e compromete o futuro da nação.