Geraldo Alckmin na Cena do Crime: E agora?

Em 9 de dezembro de 2017, durante uma convenção nacional do PSDB, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disparou uma frase que ecoaria nos anos seguintes com força quase profética: “Lula quer voltar à cena do crime.” A fala fazia alusão direta ao retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à corrida presidencial, mesmo após ter sido condenado, preso e solto com base em decisões controversas do Supremo Tribunal Federal, que alegou vícios processuais, anulando as sentenças da operação Lava Jato.

Naquele momento, Alckmin encarnava a indignação de parte da sociedade brasileira que via na figura de Lula o símbolo da corrupção sistêmica que corroeu as entranhas do Estado. A Lava Jato havia desnudado práticas que chocaram o país. A ideia de um “retorno à cena do crime” não era apenas retórica eleitoral: ela expressava o temor legítimo de que os mesmos mecanismos de poder e aparelhamento estivessem prestes a ser reativados.

Mas o tempo é implacável com a coerência. O Geraldo Alckmin de hoje é vice-presidente da República no governo do mesmo Lula que, anos antes, ele acusou de reincidir no crime. E mais: não apenas ocupa um cargo de destaque, como o faz em silêncio obsequioso diante de escândalos sucessivos e vergonhosos. A figura austera e crítica deu lugar a um político maleável, acomodado no pragmatismo que domina Brasília.

O governo Lula 3 tem colecionado denúncias e absurdos: ministros envolvidos em esquemas nebulosos, falhas graves na gestão, tráfico de influência e, mais recentemente, o escândalo bilionário da fraude no INSS — talvez o mais chocante pela sua magnitude e impacto direto sobre milhões de brasileiros. Mesmo a grande imprensa, geralmente simpática ao governo, que parece mais ser uma Secom, não consegue mais conter a sangria reputacional. Ministros do STF, que outrora endossaram as decisões que pavimentaram o caminho para a candidatura de Lula, agora admitem em off que o episódio do INSS é devastador para a imagem do Planalto.

A pergunta inevitável é: onde está Geraldo Alckmin agora? O mesmo homem que acusava Lula de crimes e alertava sobre a volta do PT ao poder se tornou parte da engrenagem. Ele não apenas “voltou à cena do crime” — como dizia —, mas agora circula por ela de maneira conivente, institucionalizada, silenciosa. Não há pronunciamentos, não há indignação, não há o mínimo constrangimento público.

Alckmin não foi apenas cúmplice silencioso de Lula: tornou-se símbolo do grande problema da política brasileira — a total ausência de memória e de princípios inegociáveis. Quando os interesses políticos se sobrepõem aos valores declarados, qualquer frase de efeito vira pó. O moralismo seletivo, tão comum entre os que posam de paladinos da ética, é desmascarado pelos acordos de gabinete.

Lula, de fato, voltou à cena do crime. Mas, ironicamente, levou consigo quem dizia que o impediria. E nisso reside o aspecto mais trágico (e cômico) da política brasileira: os acusadores de ontem se tornam os aliados de hoje, provando que, na cena do crime, sempre cabe mais um.

Por isso, a fala de 2017 permanece atual. Só que agora, o palco está mais cheio, e os aplausos vêm da plateia da conveniência.

Edivaldo Santos: Jornalista (CRP/BA 0006663/BA), radialista (DRT 5072/BA) e youtuber. Como jornalista já atua há 10 anos e atualmente é diretor de jornalismo do Portal Veja Aqui Agora . Desde 1984, atua no rádio, começando sua trajetória na Rádio Fundação Ide e Ensinai, em São Gonçalo dos Campos, na Bahia. Também trabalhou na Radio Cultura AM, Carioca AM, Betel FM, Cidade FM. Foi diretor da Comunidade FM, todas em Feira de Santana e atualmente trabalha na Rádio Elos, onde apresenta o Programa Bom Dia Felicidade, de segunda a sexta-feira, das 10h ao meio dia, também na mesma cidade. Também dirigiu a Rádio Shekiná FM em Vinhedo São Paulo e trabalhou como apresentador na Jerusalém FM na capital paulista. Como youtuber, administra os canais “Veja Aqui Agora News”, com mais de 160 mil assinantes e “Edivaldo Santos News” com mais de 15 mil assinantes. Para contato: vejaaqui.agora@hotmail.com