Quando olha para seu umbigo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) imagina ver o mundo.
Em editorial publicado nesta sexta-feira, 27, o jornal O Estado de S.Paulo afirma que a passagem do demiurgo pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) foi um retrato penoso de sua decadência.
“No plano ideológico, tudo é reduzido a uma grande conspiração dos ‘ricos’ contra os ‘pobres’”, afirma a publicação. “No plano pragmático, tudo se passa como se os conflitos globais pudessem ser solucionados em conversas de botequim.”
Para o jornal, naquilo que tem de genuíno, o sonho de Lula, ainda que limitado por seu enquadramento progressista, seria pertinente e até factível, em certa medida.
Basicamente, é a ideia do Brasil protagonizando alguma liderança numa coalizão do chamado Sul Global para obter concessões dos países desenvolvidos.
Do ponto de vista estrutural, o Brasil é uma potência pacífica na região latino-americana, um grande exportador de alimentos, guardião de minerais e biomas críticos.
Do ponto de vista conjuntural, Lula tem (ou ao menos teve) carisma, e sua vitória sobre Jair Bolsonaro (PL) foi vista com bons olhos pelas lideranças democráticas, a começar pelo presidente americano Joe Biden.
Além disso, para o Estadão, a conjunção do G20, em 2024, e da COP-30, em 2025, ofereceria condições para o Brasil se projetar, erguer pontes e promover negociações.
“Mas para que isso funcionasse o presidente precisaria combinar de maneira crível credenciais democráticas, capacidade de articulação e humildade”, avalia o jornal.
“Movida, porém, pela megalomania de Lula, inspirada pela ideologia perniciosa de Celso Amorim, a diplomacia presidencial se choca com a realidade da maneira mais grotesca, e dos destroços de um sonho resta apenas uma massa incôngrua de delírios”, acrescenta o texto.
Em questões em que o Brasil tem escassa capacidade de influência, como a governança global, a geopolítica na Europa ou no Oriente Médio, Lula foi grandiloquente, mas oscilou entre quimeras irrealistas e o mais bruto cinismo.
“Onde o Brasil poderia dar exemplos de responsabilidade e liderança, como no meio ambiente ou na geopolítica latino-americana, foi omisso – e também cínico”, diz o jornal.
Lula passa vergonha perante novas lideranças
Que espetáculo deprimente foi ver jovens lideranças como os presidentes da Ucrânia ou do Chile passando descomposturas em Lula.
Ao sugerir que, se Volodmir Zelenski fosse “esperto”, aceitaria a proposta de paz de Brasil e China, Lula se prestou a garoto de recados de um “chefe mafioso” (como disse na ONU o chanceler britânico, David Lammy, sobre Vladimir Putin).
Zelenski eviscerou o plano sino-brasileiro como aquilo que é – uma proposta de capitulação da Ucrânia –, questionou o “verdadeiro interesse” do Brasil e insinuou que o de Lula é uma ambição narcisista de ser premiado com um Nobel da Paz. Bingo.
Em uma cúpula “pela democracia” e “contra o extremismo” promovida pelo Brasil, esvaziada e só com lideranças de esquerda, o chileno Gabriel Boric desmoralizou sem meias palavras a pusilanimidade de Lula em relação à Venezuela e outras ditaduras.
As lideranças democráticas talvez até tenham visto com condescendência as platitudes de Lula sobre a “reforma da ONU” e suas promessas de liderá-la.
No entanto, “se frustraram com sua evasão sobre a questão mais premente na América Latina, o recrudescimento da ditadura de Maduro, e com o vácuo de ofertas do Brasil em relação ao meio ambiente que não literalmente apagar ‘incêndios’”, avalia o Estadão.
E certamente estão desconfiadas de seu alinhamento com China e Rússia.
Eis a dura verdade: para China, Rússia, Irã e outras autocracias, Lula não passa de um “idiota útil”; para o Ocidente, ele é, na melhor das hipóteses, um fanfarrão inútil, e, na pior, um ressentido cínico. Não há pontes firmes a construir nem negociações sérias a encampar com tão leviana e irrelevante figura.
“Talvez a mais eloquente imagem do tour de Lula por Nova York tenha sido o momento em que a organização de uma cúpula ironicamente chamada ‘do Futuro’ se viu obrigada a cortar o seu microfone por estouro de tempo, e o envelhecido líder progressista foi deixado gesticulando aos quatro ventos, falando sozinho, aos ouvidos de ninguém”, conclui o texto.
*Revista Oeste
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