Cristo glorificado: Revelações do Filho do homem do antigo ao novo testamento

Desde o início da história bíblica, Deus tem se revelado ao seu povo de maneira progressiva, amorosa e majestosa. Mas entre todas as manifestações divinas nas Escrituras, uma das mais impactantes e transformadoras é a revelação do Cristo glorificado. Diferente da encarnação humilde em Belém ou da cruz em Jerusalém, aqui nos deparamos com a glória do Filho eterno de Deus, revelado com poder, majestade e esplendor. Este artigo é uma jornada pelas Escrituras, reunindo personagens do Antigo e do Novo Testamento que, em diferentes épocas e contextos, contemplaram o Cristo em Sua glória.

1. Isaías: A visão do Senhor exaltado (Isaías 6.1-5)

Isaías teve uma visão arrebatadora: viu o Senhor assentado num trono alto e sublime, cercado por serafins que proclamavam: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos”. Os umbrais do templo se moveram e a casa se encheu de fumaça. Para o profeta, aquilo foi devastador: “Ai de mim! Estou perdido!”. Mas o Evangelho de João nos oferece uma chave de interpretação surpreendente. João 12.41 afirma que Isaías viu a glória de Jesus e falou sobre Ele. Ou seja, o Cristo glorificado já se revelava antes mesmo de sua encarnação.

2. Ezequiel: O Filho do Homem na glória (Ezequiel 1.26-28)

Ezequiel também testemunha uma visão celestial: uma figura semelhante a um homem, sobre um trono, envolta em fogo e resplendor. O profeta descreve um arco-íris ao redor e uma glória que o faz cair com o rosto em terra. A expressão “semelhança de glória do Senhor” mostra a reverência e o temor diante de algo grandioso. Essa aparição possui traços similares à visão de João em Apocalipse 1, conectando o Antigo e o Novo Testamento na figura do Cristo glorificado.

3. Daniel: O Ancião de Dias e o Filho do Homem (Daniel 7.9-14)

Daniel tem uma visão onde duas figuras se destacam: o “Ancião de Dias”, simbolizando Deus Pai, e o “Filho do Homem”, que recebe domínio, glória e um reino eterno. Jesus se apropria desse título em várias ocasiões (Mateus 26.64), deixando claro que Ele é o mesmo ser glorioso visto por Daniel. A linguagem de realeza, autoridade e eternidade é um retrato fiel da glória do Cristo exaltado.

4. Os discípulos no monte da Transfiguração (Mateus 17.1-9; Marcos 9.2-10; Lucas 9.28-36)

Pedro, Tiago e João sobem com Jesus a um alto monte, e ali testemunham algo indescritível. O rosto de Jesus resplandece como o sol, suas vestes se tornam alvas como a luz, e Moisés e Elias aparecem em glória, falando com Ele. Uma nuvem luminosa envolve a cena e uma voz do céu declara: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a Ele ouvi”. Aqui, os discípulos têm um vislumbre do Cristo glorificado, antecipando sua glória pós-ressurreição.

5. João na ilha de Patmos (Apocalipse 1.9-18)

Exilado por causa do Evangelho, João tem a mais rica revelação do Cristo glorificado. Ele o vê com olhos como chama de fogo, cabelos brancos como a lã, voz como muitas águas, e uma espada afiada saindo da boca. Cristo aparece como o Alfa e Ômega, o que vive, morreu e tornou a viver pelos séculos dos séculos. Essa visão não apenas confirma a identidade de Jesus como Deus, mas também revela Seu papel central na redenção e na história.

6. Paulo na estrada de Damasco (Atos 9.1-8; 22.6-11; 26.12-18)

A caminho de Damasco, Paulo é surpreendido por uma luz mais brilhante que o sol, e cai por terra. Ouve a voz de Jesus, que lhe pergunta: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. A glória da aparição é tamanha que o deixa cego por três dias. Mais tarde, o apóstolo testifica que viu Jesus ressuscitado e glorificado, e que foi chamado por Ele para ser apóstolo aos gentios.

7. Estêvão antes de morrer (Atos 7.55-56)

Diante do Sinédrio, Estêvão tem os olhos abertos e vê os céus abertos e Jesus em pé à direita de Deus. Em um momento de martírio e dor, ele recebe consolo da glória de Cristo. É como se o próprio Jesus se levantasse para receber aquele que testemunhou fielmente até o fim.

Conclusão:

De Isaías a João, de Ezequiel a Paulo, o Cristo glorificado se manifesta como Senhor da história, centro da revelacão e Redentor dos homens. Sua glória transcende o tempo e as alianças. Ver Cristo glorificado é ser confrontado com a verdade absoluta, com a santidade perfeita e com o amor que salva. Que nossas vidas, como a desses homens, também reflitam a glória daquele que vive para sempre. “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória” (2 Coríntios 3.18).

Pastor Luciano Gomes, teólogo