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Bebês Reborn: O surto psicótico que a sociedade está chamando de amor

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Vivemos um tempo estranho. Um tempo em que a fantasia tomou o lugar da verdade, em que bonecos de silicone recebem mais afeto do que crianças reais. A febre dos bebês reborn, longe de ser uma manifestação artística ou terapêutica, é, na verdade, um sinal grave de colapso emocional coletivo. Um surto psicótico silencioso que, ao invés de ser tratado, está sendo romantizado, legitimado e vendido como produto de consumo.

O que está acontecendo com o mundo?

A maternidade virou performance. O luto virou mercado. E a dor virou fetiche.

Estamos diante de adultos que, em plena consciência – ou na ausência dela – alimentam, vestem e cuidam de bonecos como se fossem filhos. Fazem chá de bebê, tiram fotos profissionais, distribuem certidões falsas, criam creches para pedaços de borracha. Tudo isso com a bênção da indústria, com a omissão cúmplice de muitos profissionais da saúde mental e com o incentivo entusiasmado dos influenciadores de internet.

Bebês Reborn: uma fuga da realidade

A pergunta que precisa ser feita é simples: por que estamos normalizando a insanidade? A resposta é dura, mas necessária. Porque a realidade está se tornando insuportável. Porque enfrentar perdas, frustrações, solidão e morte exige maturidade emocional – e nós nos tornamos uma geração frágil, infantilizada e desesperadamente carente.

O fenômeno dos bebês reborn não é individual, é coletivo. É o reflexo de uma sociedade doente, que prefere a fantasia ao invés do enfrentamento. Que mata crianças reais no ventre, mas chora por olhos de vidro. Que marginaliza a maternidade de verdade, mas celebra a maternidade de mentira. Que abandona filhos de carne e sangue, mas protege com histeria bonecos frios e sem alma.

Uma maternidade sem dor, sem sacrifício, sem vida

O bebê reborn é o filho sem alma, o cuidado sem risco, o amor sem reciprocidade. É o útero estéreo da pós-modernidade. A representação perfeita de uma era que busca o afeto sem entrega, o consolo sem confronto, a maternidade sem renúncia. E o mercado? Ah, o mercado agradece. Transforma o luto em lucro, a solidão em showroom, a psicose em nicho de mercado.

Enquanto isso, crianças reais são violentadas, esquecidas, abortadas, largadas à própria sorte. Enquanto nos emocionamos com vídeos de adultos embalando bonecos, ignoramos o choro de filhos verdadeiros pedindo atenção, carinho, estrutura e presença.

Uma sociedade que sacrifica a sanidade no altar da fantasia

O que mais assusta não é o fenômeno em si, mas a normalização dessa prática como se fosse algo terapêutico ou cultural. Não, isso não é arte. Não é afeto. Não é superação. É loucura disfarçada de ternura, é colapso disfarçado de cuidado.

Estamos diante de uma geração que perdeu a noção da realidade. Que sacrifica a sanidade em altares como TikTok e Instagram, onde tudo vira conteúdo, até a dor. E quanto mais chocante, mais curtidas. Quanto mais estranho, mais “fofo”. O desespero virou espetáculo, e o desequilíbrio virou identidade.

É preciso ter coragem para dizer: isso é doentio

Não podemos mais calar diante disso. É necessário retomar o senso de realidade, denunciar o absurdo, provocar reflexão. Não para atacar pessoas, mas para proteger a própria humanidade do colapso definitivo. O que está em jogo aqui não é o direito de brincar, mas a linha tênue entre fantasia e loucura que está sendo constantemente ultrapassada.

Precisamos amar mais as crianças reais. Precisamos acolher as dores verdadeiras. Precisamos enfrentar, com coragem, o vazio existencial que esta geração tenta preencher com bonecos.

Porque se continuarmos fingindo que pedaços de silicone são filhos, talvez em breve não saibamos mais o que é amor de verdade.


📌 Este artigo faz parte da coluna “Falando Sobre o Assunto com Edivaldo Santos”, exclusiva do portal Veja Aqui Agora. Para mais reflexões, siga nossas redes sociais e compartilhe este texto com quem precisa abrir os olhos para a realidade.

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