Após quatro dias de intensos debates no Palácio do Planalto, o governo ainda não chegou a um consenso sobre as medidas de contenção de gastos. Embora o objetivo fosse definir rapidamente um pacote de cortes, as diferenças de opinião entre os setores econômico e social ampliaram as discussões, adiando a decisão final.
As reuniões contaram com a presença de ministros responsáveis pelas áreas econômica e social, que discutiram os possíveis efeitos dos cortes sobre programas sociais. Planejada para durar cerca de uma hora e meia, a reunião se prolongou durante toda a manhã e tarde, só sendo encerrada ao final do dia. No entanto, ainda não houve divulgação oficial sobre as medidas a serem adotadas.
Entre os parlamentares, a resposta ao possível ajuste fiscal é variada. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) defendeu que os cortes deveriam incidir em áreas como os juros da dívida pública e os incentivos fiscais direcionados às camadas mais ricas da população, criticando propostas que afetem os benefícios sociais. “Reduzir direitos dos mais pobres é cruel. Só os trabalhadores pagam o preço, enquanto a elite e a imprensa permanecem intocáveis”, declarou o deputado.
Já o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) adotou uma posição mais moderada, reconhecendo a importância do ajuste fiscal para viabilizar avanços em políticas públicas. “Equilibrar as contas é essencial para conseguirmos conquistas importantes para o povo brasileiro”, afirmou o senador.
Em contrapartida, o senador Magno Malta (PL-ES) foi enfático em sua desconfiança quanto à capacidade do governo de implementar cortes eficazes sem comprometer o país. Ele comparou a situação à fábula do sapo e do escorpião, insinuando que a natureza do governo tornaria inviável qualquer medida de contenção sem prejuízos. “Esperar que esse governo corte gastos é como esperar que o escorpião não pique o sapo; todos afundam no fim”, argumentou o senador.
O senador Carlos Portinho (PL-RJ) também expressou reservas sobre o impacto das medidas propostas, alertando que a alta de impostos combinada com cortes poderia sobrecarregar ainda mais a população e prejudicar o consumo e a produção. “Outra vez, a população sente o aperto, enquanto os impostos sufocam a economia. Cortes de verdade? Difícil acreditar”, criticou.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) destacou o que considera uma incoerência entre o discurso de corte de despesas e a prática de muitos congressistas, que continuam a apoiar emendas parlamentares que favorecem suas bases eleitorais. “A Câmara rejeitou nossa proposta de limitar as emendas de comissão a 30% para 2025. O discurso de economia é contraditório, enquanto aprovam verbas para seus redutos. Uma hipocrisia clara”, pontuou o deputado.
As discussões devem prosseguir nesta sexta-feira, 8 de novembro, com novas tentativas de diálogo entre o presidente Lula e sua equipe. A presença do ministro Fernando Haddad foi destacada, já que ele cancelou compromissos em São Paulo para acompanhar o andamento das negociações. A expectativa é de que o governo também consulte os presidentes da Câmara e do Senado antes de qualquer decisão oficial.
O impasse entre diferentes setores do governo em relação ao corte de gastos sinaliza a complexidade do ajuste fiscal no Brasil. A indefinição gera um cenário de incertezas, enquanto as reações parlamentares refletem uma variedade de visões sobre o futuro das políticas econômicas e sociais do país.