Durante sua participação na 66ª Escola Bíblica de Obreiros (EBO), promovida pela Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco (IEADALPE), o pastor Osiel Gomes emocionou os presentes ao relatar o preconceito racial vivido por seu pai, um pastor assembleiano negro, em sua trajetória ministerial pelo Brasil. Com palavras fortes e sinceras, Osiel expôs o racismo velado (e às vezes explícito) que ainda persiste dentro das igrejas evangélicas.
“Meu pai era pastor. Preto. E naquela época ainda tinha isso… Hoje está melhorzinho, mas ainda tem”, declarou.
Entre lágrimas, louvores e a dor do preconceito
O relato começou com uma lembrança afetuosa: a visita de irmãs de uma congregação onde seu pai havia pastoreado no início do ministério. Entre músicas, lágrimas e memórias, as mulheres contaram histórias marcantes sobre o legado espiritual deixado por aquele líder negro que, mesmo enfrentando o preconceito, evangelizou e transformou vidas.
No entanto, Osiel não poupou os ouvintes da dura realidade enfrentada por seu pai, o pastor Bené:
“Uma irmã ousada contou que não queria meu pai celebrando os 15 anos da filha dela porque ‘vai ser tirada muita foto e eu não quero a mão dele preta aparecendo’.”
Perdoar e servir: a resposta cristã de um homem negro
O testemunho se tornou ainda mais impactante quando o pastor relatou que, anos depois, essa mesma família que desprezou seu pai precisou de ajuda e acabou sendo acolhida por ele em outra cidade:
“Lá vai meu pai, atrás de casa para alugar para eles, deu cargo, deu alimento, deu tudo. Aí disseram: ‘O pastor Bené, não tem gente que nem o senhor não.’”
A atitude do pai de Osiel é retrato de uma fé firme, que supera o ódio com amor e o preconceito com serviço. Mesmo marcado pela rejeição, ele escolheu estender a mão.
Racismo dentro da igreja: uma ferida ainda aberta
O testemunho do pastor Osiel não é um caso isolado, mas um espelho da realidade de muitos líderes e membros negros nas igrejas brasileiras. Ainda hoje, o racismo religioso se manifesta de forma sutil ou escancarada em decisões, convites, liderança e relacionamentos internos.
Ele lembra que, embora haja avanços, a igreja precisa continuar a combater essa chaga com verdade e ação.
“Hoje está melhorzinho… mas ainda tem.”
Uma voz profética no púlpito da verdade
Com sua fala espontânea, repleta de emoção e verdade, o pastor Osiel Gomes deu voz a muitos outros que, como seu pai, seguem enfrentando barreiras raciais no exercício da fé. Seu testemunho é um chamado à reflexão e à transformação — para que a Igreja, como corpo de Cristo, não reproduza as estruturas de opressão do mundo, mas viva de fato o amor e a igualdade ensinados por Jesus.
O racismo dentro da igreja é uma realidade que precisa ser enfrentada com coragem e compromisso. O testemunho do pastor Osiel Gomes é um grito de alerta e, ao mesmo tempo, uma lição de resiliência e perdão. Que a memória do pastor Bené sirva de inspiração para uma igreja mais justa, mais fraterna e verdadeiramente cristã.