Pr. Luciano Gomes

“Quando o partido fala mais alto que a consciência”: por que tantos militantes de esquerda se recusam a ouvir os conservadores?

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Vivemos tempos estranhos. Não é de hoje que o debate político no Brasil tem se transformado em um verdadeiro campo de batalha ideológica, onde o diálogo cede lugar ao cancelamento, a reflexão cede lugar ao slogan e o respeito cede lugar ao rótulo. Mas há algo ainda mais preocupante nesse cenário: a incapacidade de muitos militantes da esquerda — especialmente os alinhados ao PT — de simplesmente escutar o outro lado.

E não estamos falando de extremos. A crítica aqui não é contra os radicais, mas sim contra a mentalidade engessada que toma conta até de gente comum, do povo, que parece ter perdido a capacidade de pensar fora da bolha ideológica. Conservadores, em geral, mesmo mantendo firmeza em seus princípios, são mais abertos ao contraditório e menos reativos ao diálogo. Isso não significa que estão sempre certos, mas que ainda conseguem distinguir opinião de ofensa.

Por que então a esquerda, ou parte significativa dela, tem tanta dificuldade em dialogar?

A doutrinação disfarçada de consciência social

Muitos militantes foram formados dentro de um ambiente onde as mesmas ideias são repetidas sem questionamento. Nas escolas, universidades, movimentos sociais e redes de apoio partidário, cria-se uma espécie de “catecismo ideológico”, onde discordar é pecado. Há um apego emocional à ideologia, e qualquer crítica a líderes da esquerda soa quase como uma heresia.

Isso gera um comportamento quase automático: diante de qualquer denúncia de corrupção envolvendo a esquerda, a reação não é investigar, mas sim defender. Diante de um argumento conservador, a resposta não é contra-argumentar, mas rotular. A lógica dá lugar ao “nós contra eles”. A verdade se torna secundária.

Submissão ao Estado: quando o benefício silencia a consciência

Outro fator que não pode ser ignorado é a dependência — seja emocional, financeira ou estrutural — que muitos militantes têm do Estado. A esquerda no poder sempre foi generosa com sua base, distribuindo cargos, criando conselhos, ONGs e espaços de militância financiados com dinheiro público. E quem se alimenta da mão do governo dificilmente morde essa mão.

Essa dependência gera uma gratidão cega. Mesmo quando o governo erra, mesmo quando há escândalos, há quem prefira o silêncio. Afinal, o custo de pensar por conta própria pode ser perder o que se tem. O problema é que, aos poucos, essa acomodação destrói o senso crítico e transforma cidadãos em soldados de um exército ideológico.

O que está em jogo é a liberdade de pensar

O maior prejuízo dessa mentalidade não é apenas político. É espiritual, moral, humano. Quando alguém se fecha ao diálogo, quando rejeita o outro apenas por pensar diferente, está abrindo mão da sua liberdade interior. Está dizendo, sem perceber: “Não quero pensar, só quero repetir”.

Mas há um Brasil maior do que qualquer partido. Há valores que transcendem bandeiras. Família, fé, justiça, liberdade — tudo isso não deveria ter cor ideológica. Deveria ser ponto de partida para qualquer debate, e não objeto de zombaria ou desprezo.

Conclusão: um convite à lucidez

Esse texto não é um ataque. É um convite. Um apelo àqueles que ainda têm consciência, mas que foram, de alguma forma, sequestrados por uma ideologia que ensina a odiar quem pensa diferente. Não é vergonha mudar de ideia. Vergonha é viver na cegueira, mesmo diante da luz.

O Brasil precisa de gente que pense, que questione, que dialogue. Porque só assim, com mentes livres e corações abertos, é que poderemos reconstruir um país justo de verdade.

Pastor Luciano Gomes, teólogo.

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