Pr. Luciano Gomes

Quando a geladeira cheia fala mais alto que a justiça.

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Sabe, tem uma coisa que de vez em quando me inquieta… É quando percebo que a gente, como sociedade, anda muito mais preocupada com o que tem dentro da geladeira do que com o que falta na vida do outro.

É claro que não tem nada de errado em ter conforto, estabilidade, uma vida mais tranquila. Isso, inclusive, pode ser fruto de muito esforço, trabalho honesto, noites mal dormidas. Mas o problema começa quando o nosso bem-estar vira uma espécie de blindagem — como se, por estarmos bem, o sofrimento alheio não fosse mais da nossa conta.

A gente liga a TV, vê tanta desigualdade, tanta injustiça, gente passando necessidade, e às vezes… nada mexe com a gente. O coração não dói mais. A gente muda de canal, fecha o navegador, e segue a vida.

Talvez seja medo de perder o que conquistamos. Talvez seja só cansaço. Ou talvez seja mesmo aquela insensibilidade que vai entrando de fininho, quando a gente começa a acreditar que “se eu consegui, os outros também conseguem”. Mas nem sempre é assim. A vida não dá as mesmas chances pra todo mundo.

A Bíblia fala sobre isso. Amós, por exemplo, dá um “sacode” nos que estavam bem confortáveis, enquanto o povo sofria. Ele diz:

“Ai dos que vivem tranquilos em Sião…” (Amós 6:1)

Ou seja: cuidado com esse sossego que nos deixa cegos. Porque Deus sempre teve um olhar muito sério e amoroso pelos que sofrem. E Ele espera que a gente também tenha.

Jesus não andava com os “certinhos”, nem vivia cercado só de quem tinha tudo no lugar. Ele tocava nos rejeitados, se sentava com os excluídos, chorava com os que choravam. E Ele não fazia isso por obrigação, mas por amor. Um amor que enxerga. Que sente. Que se move.

O Evangelho não combina com indiferença. Não dá pra ser discípulo de Jesus e ao mesmo tempo viver trancado numa bolha, como se o mundo fosse só o nosso quintal. Viver bem não é pecado — o pecado é virar as costas pra quem vive mal.

Que Deus nos ajude a manter o coração sensível. Que Ele nos lembre, todos os dias, que não adianta geladeira cheia e coração vazio. Porque, no fim das contas, o que vai pesar diante de Deus não é o que acumulamos, mas o quanto amamos.

Pastor Luciano Gomes, teólogo

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