Quando lemos os Evangelhos com atenção, é impossível ignorar o papel dos líderes religiosos no julgamento, condenação e morte de Jesus Cristo. Ainda que a execução tenha se dado sob o domínio romano, e por mãos romanas, foi a elite religiosa judaica — os anciãos, principais sacerdotes e escribas — que tramaram, pressionaram e manipularam o processo. Isso nos leva a uma pergunta crucial: por que justamente os líderes da fé, os guardiões da Lei, se tornaram os maiores opositores do Filho de Deus?
Jesus mesmo começa a revelar esse mistério aos discípulos em Mateus 16:21:
“Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia.”
Note que Ele não menciona soldados, nem reis, nem governadores — mas os líderes religiosos. Isso já é um forte indicativo de quem estava por trás de tudo.
- O peso da inveja: Jesus era uma ameaça ao sistema religioso
Em Mateus 27:18, quando Pilatos está prestes a entregar Jesus ao povo, o texto revela algo revelador:
“Porque sabia que, por inveja, o haviam entregado.”
A fama de Jesus incomodava. Seus ensinamentos mexiam com o comodismo dos fariseus, a hipocrisia dos escribas e o orgulho dos saduceus. Ele falava com autoridade, ensinava com graça, e amava com verdade. Não havia como competir com a integridade do Mestre.
Enquanto eles buscavam o reconhecimento dos homens, Jesus buscava a glória do Pai.
- Jesus denunciava seus pecados — e eles não suportavam a luz
Cristo não fazia vista grossa à religiosidade superficial. Ele confrontava o pecado com coragem. Em Mateus 23, encontramos uma série de ais dirigidos diretamente aos escribas e fariseus:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!”
Jesus os chama de “sepulcros caiados”, “guias cegos”, “raça de víboras”. Palavras fortes, sim. Mas necessárias.
Ele estava denunciando um sistema corrupto, onde o culto havia se tornado aparência, e a religião, instrumento de poder. E como sempre, quem ama o poder, odeia a verdade — porque a verdade liberta, e quem ama o domínio prefere manter o povo preso.
- Eles esperavam um Messias político, não um Salvador crucificado
Os religiosos estavam mergulhados em expectativas políticas. Eles queriam um Messias que expulsasse os romanos, que restaurasse o reino de Israel com força e glória. Mas Jesus vinha com um reino espiritual, com a cruz no lugar da espada.
Em João 11:48, os principais sacerdotes disseram:
“Se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirarão o nosso lugar e a nação.”
O que vemos aqui? Medo de perder posição, status, influência. O Messias verdadeiro os desmascarava e confrontava seu apego ao templo e ao poder. Por isso, decidiram que Ele deveria morrer.
- A soberania de Deus: tudo fazia parte do plano
Ainda que os líderes religiosos tenham tramado contra Cristo, a Escritura deixa claro que nada fugiu do controle de Deus.
Isaías 53:10 declara:
“Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade.”
Jesus não foi vítima dos religiosos, Ele se entregou. Mas os corações cheios de orgulho e dureza foram o terreno fértil que Satanás usou para arquitetar a morte do Justo.
Conclusão: eles mataram a Verdade que não podiam controlar
O que condenou Jesus não foi um crime, pois Ele era inocente. O que O levou à cruz foi o incômodo que Sua santidade causava no sistema religioso.
Os líderes religiosos preferiram preservar seus privilégios a reconhecer o Messias.
Preferiram as trevas à luz.
Preferiram o templo vazio ao Deus encarnado.
Ainda hoje, muitos rejeitam Jesus pelos mesmos motivos: porque Ele confronta, porque Ele incomoda, porque Ele exige rendição total.
Mas bendito seja o nome do Senhor, porque a cruz que os homens levantaram por ódio, Deus usou para demonstrar Seu amor.
Pastor Luciano Gomes, teólogo