Nos últimos anos, o cenário político brasileiro tem sido marcado por declarações contundentes e, muitas vezes, polêmicas de figuras públicas e autoridades, especialmente no Supremo Tribunal Federal (STF). Entre as frases que repercutiram intensamente na opinião pública, as falas do ministro Roberto Barroso, como “perdeu, Mané” e, posteriormente, “derrotamos o bolsonarismo”, suscitaram fortes reações. Para muitos, essas declarações extrapolam o papel institucional de um magistrado, trazendo questionamentos sobre a neutralidade e a postura do STF em meio à polarização política.
A frase “perdeu mané” foi dita por Barroso em 15 de novembro de 2022. Ele caminhava em Nova York, quando um homem perguntou se ele responderia às Forças Armadas e se deixaria “o código-fonte [das urnas] ser exposto”. O manifestante disse: “O Brasil precisa de resposta, ministro”. Barroso rebateu: “perdeu, mané, não amola”. E a “Nós derrotamos o bolsonarísmo” em 12 de julho de 2023 em discurso politico no 59° Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), realizado em Brasília (DF). Em sua fala, o magistrado também fez críticas à ditadura.
Ao analisarmos o atual cenário das eleições municipais de 2024, vemos um claro contraste com as palavras do ministro. A expectativa de um avanço significativo da esquerda nas urnas, particularmente após a última eleição presidencial, foi frustrada por uma série de derrotas tanto em capitais quanto em cidades menores, onde a base popular supostamente deveria ser mais forte. Longe de conquistar espaços importantes, a esquerda teve dificuldades em assegurar prefeituras estratégicas e obteve resultados aquém do esperado, revelando uma desconexão com o eleitorado em vários municípios.
Enquanto a direita avançou e conseguiu conquistar 2.673 prefeituras, o centro 2.144, a esquerda amargou com apenas 752. Uma derrota humilhante, digna ser parafraseada com as declarações de Barroso, que seria: “Perdeu esquerda”, “A direita derrotou a esquerda”.
Capitais que historicamente foram redutos da esquerda não apenas viram candidatos de centro-direita e direita avançarem, como também testemunharam uma preferência crescente por alternativas que prometem uma gestão menos ideológica e mais focada em questões práticas. Em cidades menores, a situação não foi diferente: a retórica progressista não conseguiu mobilizar o suficiente para conquistar os votos, evidenciando que a população, neste momento, parece procurar outro tipo de liderança.
A leitura desse fracasso eleitoral da esquerda, portanto, desafia a narrativa de uma “vitória” sobre o bolsonarismo, como mencionado por Barroso. Na prática, os resultados das urnas mostram que o eleitor brasileiro não comprou o discurso, e a oposição ao projeto político de Bolsonaro não se traduziu em uma aceitação ampla do modelo de esquerda. Em vez disso, há uma demonstração clara de insatisfação com os extremos e de uma busca por soluções que conversem diretamente com as necessidades locais.
Diante desse cenário, surge a questão: qual é o papel do STF, e até onde vão as responsabilidades de seus membros ao fazerem declarações com potencial de influenciar o debate político? Para muitos, a postura de ministros que adotam discursos enfáticos e até irônicos contrasta com a necessidade de imparcialidade e distanciamento que a função exige. As palavras têm poder, e, quando vêm de autoridades tão elevadas, podem contribuir para agravar a polarização e distanciar ainda mais o povo de suas instituições.
As eleições de 2024 revelam, portanto, um resultado que parece contradizer a narrativa oficial de “derrotar” uma ideologia específica. Na prática, os eleitores parecem ter emitido uma mensagem clara: preferem buscar alternativas aos modelos impostos e desejam lideranças mais pragmáticas e menos pautadas por discursos de ódio ou divisão.
A postura de figuras do Judiciário em debates políticos, como as declarações do ministro Barroso, também levanta dúvidas sobre o impacto na confiança da população nas instituições. Para muitos brasileiros, essa proximidade com o debate público pode acabar enfraquecendo a percepção de imparcialidade do STF, afastando a Corte de seu papel de guardiã da Constituição e alimentando suspeitas de uma postura mais política e militante do que institucional.