Vivemos um tempo em que o verdadeiro Evangelho tem sido diluído, distorcido e maquiado para agradar multidões. Em nome de uma “fé” embalada com promessas de sucesso e vitória contínua, muitos púlpitos hoje pregam um evangelho que pouco se assemelha à mensagem deixada por Cristo e pelos apóstolos. O que se propaga em muitos círculos religiosos é um “evangelho triunfalista”, onde a ênfase recai sobre conquistas materiais, vitórias pessoais e promessas de bem-estar terreno.
Mas será que esse é o verdadeiro Evangelho?
O Evangelho segundo as Escrituras
A Bíblia é clara: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5:17). O Evangelho, em sua essência, é uma proposta de transformação de vida — não de status financeiro. É um chamado ao arrependimento, à santidade, à renúncia, e à comunhão com Deus, e não uma barganha religiosa onde se dá o dízimo e se recebe uma casa própria, um carro novo ou uma bolsa universitária.
Jesus nunca prometeu conforto material, mas alertou: “No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33). A cruz não é um símbolo de conquista humana, mas de morte do eu, de entrega e de sofrimento com propósito. O chamado de Jesus é claro: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lucas 9:23).
A Ilusão do Evangelho de Troca
O evangelho triunfalista é alimentado por frases de efeito como:
“Você nasceu para vencer.”
“Deus vai te dar a chave da vitória!”
“A tua bênção está chegando!”
“Hoje é o dia do seu milagre financeiro!”
Essas frases, que alimentam expectativas humanas, estão estampadas em hinos populares do meio gospel, como:
“Vai ser lindo o que Deus vai fazer… você vai dar a volta por cima.”
“Quem te viu passar na prova e não te ajudou… vai ver você no pódio.”
“Tá chorando por quê? Se você tem um Deus que cuida de você…”
São canções que, embora tenham sua beleza e possam consolar em certos momentos, alimentam a ideia de que seguir a Cristo é uma escada para o sucesso humano — e não um caminho de discipulado, onde a cruz é diária e a glória é eterna, não imediata.
A Verdade é que o Evangelho Não Promete Vida Fácil
Basta ler o Sermão da Montanha (Mateus 5 a 7) para perceber que o Reino de Deus é para os humildes, os que choram, os mansos, os perseguidos. A promessa não é de glória neste mundo, mas de recompensa nos céus.
Paulo foi um dos maiores apóstolos da história e afirmou: “Já até a presente hora padecemos fome, sede, nudez, somos esbofeteados, e não temos pousada certa” (1 Coríntios 4:11). E mais: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15:19).
Um Chamado à Reflexão
É preciso voltar à essência. O Evangelho verdadeiro transforma o coração, não o saldo bancário. Ele molda o caráter, não promove celebridades religiosas. Não é um convite ao palco da fama espiritual, mas ao altar do sacrifício.
Pregar um Evangelho que promete só bênçãos materiais é fazer propaganda enganosa do Reino de Deus. Isso é grave. É, na verdade, conduzir o povo a uma decepção futura, pois o dia mau vem para todos (Efésios 6:13), e muitos que foram ensinados a crer que “tudo é vitória” se desesperam quando a enfermidade, o luto, a crise ou a escassez chegam — como chegaram até mesmo aos apóstolos.
Um Evangelho que Salva, Cura e Redireciona
O Evangelho que Jesus nos deixou é o que transforma o bêbado em pai de família, o corrupto em homem íntegro, a prostituta em mulher de valor. Ele não apenas muda a situação — muda o ser.
A maior vitória que um ser humano pode experimentar não é a conquista de um carro novo, mas o perdão dos pecados. A maior prosperidade não é financeira, mas espiritual. E a maior libertação não é da dívida do cartão de crédito, mas do domínio do pecado.
Conclusão
Não podemos ser coniventes com esse “outro evangelho” (Gálatas 1:6-9) que se prega aos montes nas redes sociais, nas lives de pregadores estrelados, e nas igrejas que mais parecem palcos de entretenimento do que casas de adoração.
Que nós, pastores, líderes e cristãos sinceros, sejamos defensores da verdade bíblica, ainda que isso nos custe popularidade. O Evangelho de Cristo não precisa de aditivos triunfalistas. Ele é suficiente em sua glória, em sua simplicidade e em seu poder transformador.
Pastor Luciano Gomes, Teólogo