A recente prisão do ex-ministro do Turismo Gilson Machado reacendeu debates sobre a condução das investigações pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o papel do tenente-coronel Mauro Cid no centro do processo. Para analistas e juristas, há sinais de uma nova estratégia por parte do ministro Alexandre de Moraes: encontrar um novo delator que sustente as acusações feitas até agora.
As declarações que inflamaram esse debate foram feitas nesta sexta-feira (13) pelo advogado André Marsiglia, especialista em liberdade de expressão, durante sua participação no programa Sem Rodeios, transmitido pelo canal da Gazeta do Povo no YouTube.
Cid: “o homem sem estrela” e o azar em série
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, voltou ao noticiário com uma imagem nada animadora. Comparado por Marsiglia a “um homem sem estrela”, Cid parece acumular revezes em sua trajetória judicial. Apesar de ostentar insígnias militares, seu destino tem sido marcado por constantes idas e vindas à prisão. O azar de Cid virou até motivo de trocadilho nos bastidores políticos e jurídicos: “a cadeia tem ímã para ele”.
Impacto da matéria da Veja e reações imediatas
O estopim da nova onda de repercussões foi a reportagem da revista Veja, que aponta que Mauro Cid teria mentido em sua delação premiada. A denúncia causou forte impacto, levando a uma reação quase imediata: no dia seguinte, Gilson Machado foi detido — e, de forma surpreendente, o Mauro Cid também solto antes mesmo de sua prisão ser executada.
A situação gerou estranheza no meio jurídico. Afinal, como advogados já estavam com pedidos de revogação de uma prisão ainda não realizada? Isso levanta sérias suspeitas sobre vazamentos de decisões judiciais que deveriam ser sigilosas. Se uma prisão é antecipadamente conhecida, há risco de fuga e perda de eficácia da medida.
Prisão de Gilson e suspeita de fuga de Cid
De acordo com o advogado André Marsiglia, a acusação contra Gilson Machado é grave: ele teria tentado facilitar a emissão de um passaporte para ajudar Cid a deixar o país. Para ele, se o caso for confirmado, trata-se de uma tentativa de obstrução de justiça. No entanto, a sequência dos fatos — da denúncia da Veja à prisão-relâmpago — indica que há mais em jogo do que apenas a ação de Gilson.
STF em modo de contenção de crise
Segundo jurista, Alexandre de Moraes teria se deparado com duas alternativas após a publicação da denúncia contra Cid: ignorar a matéria e assumir o desgaste de manter uma delação comprometida, ou agir para dar resposta pública. Ele escolheu agir — mas com cautela.
Em vez de anular de imediato a colaboração de Cid, o ministro optou por chamá-lo para depor em outro processo. A leitura, segundo Marsiglia, é que Moraes tenta “repactuar” com Cid, pressionando-o a reafirmar ou reestruturar sua delação. Essa tática já teria sido usada anteriormente: após acusações semelhantes, Cid voltou à prisão, deu novos depoimentos e sua colaboração foi mantida.
Um novo colaborador à vista?
A possível inconsistência no relato de Mauro Cid pode estar levando o STF a buscar um “plano B”. E aí entra Gilson Machado. No programa, Marsiglia disse que “Moraes está à procura de um novo delator, alguém que possa reforçar ou substituir os pontos frágeis da colaboração de Cid”. Ele ironizou a situação comparando-a a um “Tinder da colaboração”, sugerindo que o ministro busca o “par ideal” para sustentar a narrativa judicial.
A prisão de Gilson, portanto, pode ter mais a ver com a estratégia de reconstrução do caso do que com sua ação individual.
Conclusão: a narrativa em construção
A sequência dos acontecimentos — denúncia, prisões, depoimentos — parece indicar uma movimentação estratégica dentro do STF. Moraes precisa manter de pé o processo que tem em Cid seu principal pilar. Com a credibilidade do militar sob questionamento, a busca por novos nomes dispostos a colaborar pode se intensificar nos próximos dias.
O cenário sinaliza que outras prisões e inquéritos podem surgir em breve, com um único objetivo: encontrar quem consiga sustentar a delação que está cada vez mais cambaleante.