Enquanto cristãos enfrentam prisões, censuras e perseguições violentas em países como Afeganistão, Coreia do Norte, Cuba e China, o Brasil ainda preserva uma liberdade religiosa assegurada pela Constituição. No entanto, essa garantia legal não tem impedido o avanço de um fenômeno preocupante: a crescente hostilidade social contra evangélicos e católicos.
De forma silenciosa, porém constante, cresce no país um ambiente onde expressar publicamente a fé cristã passou a ser malvisto — especialmente em universidades, redes sociais e meios culturais.
Casos emblemáticos: Frei Gilson e Claudia Leitte
O caso do frei Gilson, amplamente divulgado em 2024, acendeu o alerta. Mesmo sem declarar apoio político explícito, ele foi alvo de linchamento virtual, acusado de vínculos com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a produtora Brasil Paralelo. Os ataques ocorreram apenas por ele professar sua fé e adotar uma postura conservadora.
Já em 2023, foi a vez da cantora Claudia Leitte enfrentar denúncias no Ministério Público. O motivo? Ter substituído a palavra “Yemanjá” por “Yeshua” em uma de suas músicas. O ato foi interpretado por alguns como intolerância religiosa — ignorando o direito à livre expressão da fé cristã.
Internet: território livre para o ódio aos cristãos
Basta uma busca rápida na rede social X (antigo Twitter) para encontrar declarações como “odeio crente” ou “evangélico tem que acabar”. Esse tipo de discurso, que seria inaceitável contra outras minorias, tornou-se socialmente aceitável em determinados nichos ideológicos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Direito Religioso (IBDR), essa é uma “escalada preocupante da repressão à liberdade religiosa” no Brasil.
Entrevista: Jean Regina, vice-presidente do IBDR, analisa o cenário
Em entrevista exclusiva à revista Oeste, o advogado e vice-presidente do IBDR, Jean Regina, destacou os fatores políticos, culturais e jurídicos que têm contribuído para o aumento da intolerância contra cristãos.

Jean Regina é vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Religioso
Qual governo garante mais liberdade religiosa?
“Quanto mais fortalecida for a democracia, mais liberdade religiosa teremos. Governos autoritários restringem essa liberdade”, afirma Jean Regina.
Ele ressalta que liberdade religiosa está diretamente ligada à liberdade de expressão e que países com instituições democráticas frágeis tendem a suprimir manifestações religiosas.
Tipos de perseguição no Brasil
Jean enumera os tipos de ataques mais comuns: vandalismo de templos, proibição de cultos em escolas, portarias estatais que vetam missões religiosas em tribos indígenas e até proibições da distribuição de Bíblias entre policiais.
“O que antes era ódio à Igreja Católica, hoje se voltou também contra os evangélicos — principalmente após sua entrada no cenário político”, alerta.
A esquerda e o discurso de ódio religioso
Segundo Jean, o crescimento da esquerda política no Ocidente criou um ambiente onde cristãos passaram a ser tratados como fundamentalistas.
“Não posso negar 2 mil anos de teologia e tradição cristã. O espírito do tempo é relativista. Já o da fé cristã é de continuidade”, destaca.
Brasil, França e Inglaterra: semelhanças e contrastes
Ao comparar o Brasil com países como França e Inglaterra, Jean afirma que aqui ainda existe uma liberdade prática superior.
“Na França, uma muçulmana não pode usar burca. Lá, a neutralidade do Estado é sinônimo de limpar os ambientes de qualquer símbolo religioso. Isso é laicismo, não laicidade”, explica.
Na Inglaterra, casos extremos mostram a repressão: cristãos presos por orar em silêncio diante de clínicas de aborto.
Liberdade religiosa como antídoto contra o autoritarismo
A liberdade religiosa, segundo Jean Regina, é um termômetro da saúde democrática de uma nação. Quanto mais ela é restringida, mais um governo tende ao autoritarismo.
“Só conseguimos conter regimes autoritários quando as liberdades — inclusive a religiosa — são exercitadas”, finaliza.
Conclusão: fé cristã em xeque no Brasil?
Embora o Brasil ainda desfrute de um cenário legal favorável, a crescente criminalização simbólica da fé cristã levanta um alerta. O fenômeno, se não contido, pode comprometer um dos pilares mais fundamentais de qualquer sociedade livre: o direito de crer, falar e viver de acordo com sua fé.
A pergunta que fica é: até quando a liberdade religiosa será, de fato, respeitada no Brasil?