Pr. Luciano Gomes

Honrar pai e mãe: O mandamento esquecido que pode definir o futuro de uma geração

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Desde os tempos mais antigos, o mandamento de honrar pai e mãe tem sido um pilar fundamental na estrutura da família e da sociedade. Na Bíblia, esse princípio não é apenas uma recomendação moral, mas um dever sagrado, carregado de uma promessa divina:

“Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá.” (Êxodo 20:12)

Nos dias atuais, no entanto, esse princípio tem sido negligenciado. Muitos filhos abandonam seus pais à própria sorte, deixando-os em asilos, hospitais ou simplesmente os esquecendo em meio à correria da vida. Para alguns, a única ocasião em que se lembram de seus pais é quando eles já não estão mais vivos. Mas será que essa negligência não traz consequências?

O Mandamento de Honrar os Pais na Tradição Bíblica

A Bíblia enfatiza de forma clara e direta a importância desse mandamento. Em Efésios 6:1-3, o apóstolo Paulo reforça:

“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.”

A obediência e o respeito aos pais são princípios que trazem bênçãos para os filhos. No entanto, aqueles que desonram seus pais acabam por colher frutos amargos, como ilustrado em diversas passagens bíblicas.

A Seriedade do Mandamento na Lei Mosaica

Na legislação judaica, honrar os pais não era uma mera sugestão, mas uma exigência inquestionável. A desobediência e a rebeldia contra os pais eram tratadas com extrema severidade. Deuteronômio 21:18-21 descreve que, se um filho fosse contumaz e rebelde, desobedecendo pai e mãe mesmo após repetidas correções, ele poderia ser levado aos anciãos da cidade e apedrejado até a morte. Esse castigo extremo revela o quão fundamental era o respeito familiar para a manutenção da ordem e da moralidade dentro da sociedade israelita.

Exemplos Bíblicos de Filhos Rebeldes e Suas Consequências

A Bíblia nos apresenta diversos casos de filhos que desprezaram seus pais e enfrentaram terríveis consequências:

Absalão – Filho do rei Davi, Absalão se rebelou contra seu próprio pai e tentou usurpar o trono. Sua rebeldia levou-o a uma morte trágica, ficando preso pelos cabelos em um carvalho e sendo morto pelos soldados de Davi (2 Samuel 18:9-15).

Eli e seus filhos – Hofni e Finéias, filhos do sacerdote Eli, desonraram o sacerdócio e ignoraram as advertências do pai. Como consequência, morreram no campo de batalha, e a linhagem sacerdotal de Eli foi rejeitada por Deus (1 Samuel 2:12-34).

O filho pródigo – Embora tenha sido perdoado após seu arrependimento, a parábola ilustra como a rebeldia e a falta de respeito pelos pais podem levar à ruína e ao sofrimento (Lucas 15:11-32).

O Exemplo Supremo de Amor e Cuidado: Jesus Cristo

Nenhum exemplo de amor e cuidado por uma mãe é mais significativo do que o de Jesus Cristo. Mesmo em meio à dor e ao sofrimento na cruz, Ele se preocupou com Maria e garantiu que ela fosse amparada. Em João 19:26-27, lemos:

“Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.”

Esse ato demonstra o respeito e o amor que Jesus tinha por Maria. No contexto bíblico, José já não é mencionado, e os outros filhos de Maria não aparecem nessa cena, reforçando a importância desse cuidado de Jesus para com sua mãe.

O Dever de Cuidar dos Pais na Velhice

Ao longo da história, diferentes civilizações sempre levaram a sério o cuidado com os pais. Na China antiga, a filosofia confucionista estabeleceu a “piedade filial” (xiao), um princípio que exigia que os filhos cuidassem de seus pais idosos e os respeitassem em todas as circunstâncias.

No Japão, existe a tradição do “oyakoko”, que enfatiza o dever dos filhos de amparar seus pais na velhice. Já na cultura greco-romana, o respeito pelos anciãos era um valor essencial, e os filhos tinham a responsabilidade de sustentar seus pais quando estes já não podiam mais prover por si mesmos. Povos indígenas também valorizam profundamente o papel dos mais velhos, considerando-os fontes de sabedoria e liderança.

No entanto, no mundo ocidental contemporâneo, vemos uma crescente terceirização desse dever, muitas vezes sob o argumento de falta de tempo ou estrutura. A cultura do individualismo tem levado muitas pessoas a negligenciarem seus pais em nome de uma busca desenfreada por sucesso pessoal e conforto próprio.

Consequências de Ignorar Esse Mandamento

A negligência para com os pais não apenas desagrada a Deus, mas também gera impactos profundos na vida dos próprios filhos. Provérbios 30:17 adverte de forma severa:

“Os olhos que zombam do pai e desprezam a obediência à mãe, os corvos do ribeiro os arrancarão, e os filhotes da águia os comerão.”

Esse tipo de negligência rompe os laços familiares e gera um ciclo de ingratidão que pode se perpetuar por gerações. Além disso, é comum que filhos que abandonam seus pais também sejam abandonados por seus próprios filhos no futuro.

Conclusão

Honrar pai e mãe não é apenas um ato de obediência a um mandamento, mas um reflexo do amor e da gratidão que devemos ter por aqueles que nos deram a vida. Embora o mundo moderno tente relativizar esse princípio, a verdade bíblica permanece inalterada: cuidar dos pais é um dever sagrado e uma demonstração de caráter.

Se hoje ainda temos a oportunidade de demonstrar amor e gratidão por nossos pais, que o façamos enquanto há tempo. O verdadeiro amor não se manifesta apenas em palavras, mas em gestos concretos de cuidado, respeito e presença. E para aqueles que já perderam seus pais, que possam refletir sobre o legado que deixaram e ensinar às próximas gerações a importância desse mandamento divino.

Pastor Luciano Gomes

Teólogo

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