A igreja Bola de Neve em Santo André promoveu recentemente uma confraternização com clima festivo e atmosfera de arraial, intitulada “Arraiá dos Santos”. Com bandeirolas, trajes caipiras e comidas típicas, o evento teve como proposta reunir membros e visitantes em um ambiente alegre e acolhedor. No entanto, a iniciativa reacendeu uma antiga discussão no meio cristão: até que ponto é aceitável adaptar manifestações culturais seculares dentro do ambiente eclesiástico?
Festa junina evangélica: celebração ou concessão?
Embora tenha sido organizado com foco em comunhão e integração da comunidade, o “Arraiá dos Santos” acabou dividindo opiniões. Para muitos evangélicos, trazer elementos de festas populares – historicamente associadas a santos católicos e práticas de sincretismo religioso – para dentro da igreja é algo que exige cuidado. Há quem veja como uma ferramenta legítima de evangelização; outros enxergam como um comprometimento da identidade bíblica e da santidade do culto cristão.

A crítica não é nova. Sempre que igrejas adotam símbolos de origem não cristã em suas ações, reacende-se a tensão entre tradição teológica e estratégias contemporâneas de evangelismo.
Igreja conhecida por romper padrões tradicionais
A Bola de Neve Church já tem histórico de promover eventos com essa abordagem diferenciada. Além dos arraiais, um de seus projetos mais comentados é a bateria de escola de samba composta por membros da igreja, que participa de blocos carnavalescos com o intuito de levar a mensagem do evangelho aos foliões. A proposta é clara: usar a linguagem cultural vigente como ponte para a evangelização.
Essa ousadia, porém, tem custo. Enquanto alguns veem essas práticas como forma eficaz de alcançar quem está fora da igreja, há líderes evangélicos que acusam tais ações de representarem uma perigosa “mistura” entre o sagrado e o profano.
Contextualizar ou comprometer?
O ponto central da discussão gira em torno de uma questão que ecoa há décadas: é possível evangelizar sem abrir mão da essência bíblica? Igrejas como a Bola de Neve acreditam que sim. Elas entendem que estar presente em festas populares pode ser uma forma de alcançar pessoas que jamais pisariam em um culto tradicional.
Por outro lado, há um apelo crescente de setores mais conservadores por preservação da doutrina e separação do que consideram práticas mundanas. Para esses grupos, a tentativa de “ressignificar” eventos seculares seria, na verdade, uma forma disfarçada de se render ao espírito da época.
Uma igreja em transição
O debate sobre a participação de cristãos em festas como o Carnaval ou as festas juninas reflete um embate mais profundo entre dois modelos de igreja: um que busca engajamento com a cultura contemporânea e outro que defende a manutenção de um padrão contra-cultural, baseado em princípios imutáveis.
No final das contas, o “Arraiá dos Santos” revelou mais do que uma simples celebração junina: escancarou as divergências internas sobre como ser igreja no século 21 — entre o zelo pela pureza doutrinária e o desejo de ser relevante no mundo atual.