Pr. Luciano Gomes

Da sombra à realidade: O significado profundo da páscoa na antiga e na nova aliança

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A Páscoa é, sem dúvida, uma das celebrações mais significativas da história do povo de Deus. Ela nasce no contexto da libertação, é regada pelo sangue de um cordeiro e carrega, desde o seu início, um peso profético que apontava para algo maior. Muito antes de ser associada a ovos de chocolate ou a coelhinhos, a Páscoa era marcada por lágrimas, pressa e fé — elementos que ainda hoje devem estar presentes em nossa caminhada com Cristo. Neste artigo, vamos refletir sobre a Páscoa celebrada no Egito, antes da décima praga, compreendendo seus elementos e seus significados, e também entender como ela se cumpre de forma gloriosa na Nova Aliança, por meio de Jesus Cristo, o nosso Cordeiro Pascal.

  1. A Primeira Páscoa: Uma Noite de Libertação e Sangue (Êxodo 12)

A primeira Páscoa foi celebrada em meio a um contexto de aflição e expectativa. O povo hebreu estava prestes a ser liberto da escravidão egípcia, e Deus estabeleceu uma ordenança que marcaria não apenas aquela noite, mas toda a identidade de Israel dali em diante.

Elementos da Páscoa no Antigo Testamento:

O cordeiro sem defeito:

O cordeiro de um ano, sem mancha ou defeito (Êxodo 12.5), deveria ser sacrificado ao entardecer. Seu sangue seria passado nos umbrais das portas como sinal de proteção. Este cordeiro simbolizava a substituição — alguém morria no lugar dos primogênitos. O juízo de Deus “passava por cima” das casas marcadas com o sangue. Aqui já vemos um vislumbre claro do sacrifício vicário de Cristo.

Pães sem fermento:

A pressa da saída do Egito não permitia esperar o pão fermentar. O fermento, na tradição bíblica, também é símbolo de pecado e corrupção (1 Coríntios 5.7-8). Comer o pão sem fermento era um chamado à santidade e pureza, à prontidão para obedecer a Deus sem reservas.

Ervas amargas:

As ervas simbolizavam a amargura da escravidão no Egito. Era um memorial do sofrimento vivido, para que nunca esquecessem de onde Deus os tirou. A lembrança da dor não era para vitimização, mas para gratidão.

  1. A Páscoa Como Memorial e Aliança

Deus ordena que esta celebração seja perpetuada de geração em geração (Êxodo 12.14). A Páscoa se torna um memorial da libertação e da fidelidade de Deus. Mas além disso, ela carrega em si uma pedagogia divina: apontar para algo maior, algo que viria em plenitude.

Jesus mesmo celebra a Páscoa com seus discípulos na chamada Última Ceia, e ali Ele transforma o significado daquele momento, inaugurando a Nova Aliança.

  1. A Páscoa da Nova Aliança: Cristo, Nosso Cordeiro Pascal

O apóstolo Paulo é categórico: “Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Coríntios 5.7). Tudo o que a antiga Páscoa apontava, Jesus cumpre plenamente.

Elementos da Páscoa na Nova Aliança:

O Corpo de Cristo (o pão):

Jesus, ao partir o pão, disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lucas 22.19). Ele é o pão da vida, puro, sem pecado — o Pão sem fermento. Nele não há corrupção, e por Ele somos alimentados espiritualmente. A ceia se torna um memorial, mas também uma proclamação viva da nossa comunhão com Ele.

O Sangue da Nova Aliança (o cálice):

“Este cálice é a nova aliança no meu sangue” (Lucas 22.20). O sangue que antes era passado nos umbrais, agora é derramado no Calvário para nos redimir de forma definitiva. Não é mais o sangue de cordeiros, mas o sangue do Filho de Deus, que nos purifica de todo pecado.

  1. Da Sombra à Realidade: O Cumprimento Profético

A antiga Páscoa era sombra (Hebreus 10.1), figura, prenúncio. A Nova Aliança é a realidade, o cumprimento. Jesus é o verdadeiro cordeiro. Ele é o pão do céu. Seu sangue nos livra do juízo. Sua morte nos liberta da escravidão do pecado. A Páscoa não é apenas uma lembrança; é uma convocação: para a santidade, para a comunhão, para a missão.

Conclusão: Uma Páscoa Viva e Atual

A Páscoa não é uma tradição morta. Ela continua viva, não pelos rituais antigos, mas pelo sacrifício eterno de Cristo. Celebrar a Páscoa, para nós cristãos, é viver a libertação diária, é lembrar da cruz com gratidão, é participar do pão e do cálice com temor e esperança.

Que nossa vida seja marcada pelo sangue do Cordeiro, pela pureza do pão sem fermento, e até mesmo pelas lembranças das ervas amargas — pois tudo isso nos ensina a valorizar a graça que nos alcançou.

Pastor Luciano Gomes, teólogo

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