Pr. Luciano Gomes

Cristo nunca pediu templos: A verdadeira igreja é gente, não prédio.

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Por séculos, muitos confundiram “igreja” com construção, templo, estrutura de pedra. Mas a igreja que Jesus veio edificar não tem cimento nem telhado — tem vida, tem sangue, tem nome, tem comunhão. Quando Ele disse: “Edificarei a minha igreja” (Mateus 16:18), não estava falando de muros, mas de pessoas. A base da igreja é a revelação de que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo — e essa verdade não se sustenta em colunas de mármore, mas em corações rendidos.

A igreja de Atos é nosso modelo. Nela, vemos que a essência da fé cristã sempre foi a vida em comunidade, a partilha, a oração e o discipulado diário. A seguir, vamos mergulhar nas quatro principais características da igreja primitiva e descobrir por que precisamos urgentemente voltar às raízes do projeto original de Cristo.

  1. Unidade e Relacionamento Profundo

“Todos os que criam estavam juntos…” (Atos 2:44)

Eles viviam como irmãos de verdade. Não era apenas um “graça e paz” de domingo, mas uma presença constante — nas lutas, nas dores, nas alegrias e nos milagres. Isso ecoa Amós 3:3: “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” e se conecta com Filipenses 2:1-5, onde Paulo nos chama a termos o mesmo sentimento que houve em Cristo: humildade, empatia, amor, unidade.

A verdadeira igreja não é uma reunião semanal, mas um corpo conectado espiritualmente todos os dias.

  1. Partilha e Cuidado com os Necessitados

“Tinham tudo em comum… e repartiam com todos, conforme a necessidade.” (Atos 2:44-45)

A igreja primitiva era marcada pela generosidade. As pessoas valiam mais do que as posses. Bens eram meios de servir, não de se exaltar. Jesus criou a igreja também para atender as demandas sociais — aliviar a dor, socorrer o aflito, acolher o perdido.

Hoje, nossas igrejas estão cheias de pessoas machucadas: pais aflitos, mães esgotadas, jovens em crise, famílias em pedaços. E elas não precisam de estruturas luxuosas, mas de irmãos que as acolham como hospital da alma. A igreja existe para valorizar o ser humano, não para promover eventos ou doutrinas vazias.

  1. Fé Viva e Perseverança no Espírito

“E perseverando unânimes todos os dias no templo…” (Atos 2:46)

Sim, eles se reuniam no templo, mas sua espiritualidade não estava limitada a um lugar. Perseveravam todos os dias — e isso revela vida no Espírito. Eles valorizavam a comunhão, como mostra o Salmo 27:4: “Uma coisa pedi ao Senhor… que eu possa habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida.”

A verdadeira igreja não depende de prédio. É o povo que se reúne para buscar, crescer, amar, perdoar. Onde dois ou três estiverem reunidos no nome de Jesus, ali Ele estará (Mateus 18:20).

  1. Comunhão Familiar e Simplicidade de Coração

“Partiam o pão de casa em casa, com alegria e singeleza de coração.” (Atos 2:46)

Na cultura judaica, compartilhar uma refeição era mais do que comer — era selar amizade, firmar aliança. A igreja primitiva fazia das casas seus altares. O lar era igreja. Ali partiam o pão, oravam, ensinavam, cuidavam uns dos outros.

Esse é o modelo que Jesus nos deixou: uma igreja que vive a fé no cotidiano, no convívio, no partir do pão, nas lágrimas compartilhadas e nas orações sinceras.

Deus Nunca Pediu Templos

Quando Davi expressou o desejo de construir um templo, Deus disse por meio do profeta Natã: “Porventura me edificarás tu uma casa para minha habitação?” (2 Samuel 7:5). Mais tarde, Estevão, antes de ser apedrejado, declara: “O Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos 7:48).

O templo foi um projeto humano. Permitido por Deus, sim — mas nunca foi a essência do plano. O plano sempre foi habitar entre o povo (Êxodo 25:8), e depois habitar dentro do povo: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3:16).

Conclusão: Voltemos ao Projeto Original

A igreja que Jesus sonhou é viva, é dinâmica, é relacional. Ela não pode ser medida por bancos, luzes ou programações. Ela é feita de gente cheia do Espírito, vivendo em amor, servindo em humildade e buscando a presença de Deus com sinceridade.

Precisamos voltar ao projeto de Cristo: uma igreja em células, em lares, em comunidades vivas. Uma igreja que não se limita ao domingo nem a um prédio, mas que respira o Reino de Deus em cada passo, em cada gesto, em cada mesa compartilhada.

Cristo nunca pediu templos. Ele pediu discípulos. E Ele prometeu: “Edificarei a minha igreja”… e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mateus 16:18)

Pastor Luciano Gomes, teólogo

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