Uma correspondência enviada por Donald Trump ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), gerou forte repercussão nos meios jurídicos e políticos. A carta, vazada recentemente, aborda determinações do magistrado brasileiro direcionadas à plataforma americana Rumble — e foi considerada por muitos analistas uma repreensão contundente à atuação do ministro.
O documento, assinado por Trump e seus assessores jurídicos, expressa forte oposição às ordens emitidas por Moraes, que solicitavam o bloqueio de contas, suspensão de pagamentos e o repasse de dados referentes a um cidadão norte-americano, identificado como o comunicador Alan dos Santos.
Segundo o texto, essas exigências foram direcionadas a uma empresa sediada nos Estados Unidos e, de acordo com a legislação americana, não possuem validade no território norte-americano. O tom diplomático da carta não suavizou o impacto do seu conteúdo, que evidenciou, segundo o presidente, uma violação das normas básicas do direito internacional.
Entenda o impasse jurídico
De acordo com o documento, qualquer ordem judicial de outro país que envolva ações a serem executadas nos Estados Unidos deve, obrigatoriamente, passar por um processo formal de reconhecimento perante a Justiça americana. O Departamento de Justiça dos EUA reforça que decisões estrangeiras, para serem aplicadas no país, precisam seguir os trâmites legais específicos, incluindo o devido processo e a análise da compatibilidade com a Constituição americana — especialmente no que tange à liberdade de expressão.
A carta ressalta que, mesmo que os procedimentos legais tivessem sido seguidos por Moraes, dificilmente as ordens seriam acatadas, justamente por violarem princípios constitucionais fundamentais nos Estados Unidos.
Reações e constrangimento
Especialistas internacionais e jornalistas políticos comentaram o episódio, classificando-o como um momento raro na diplomacia judicial contemporânea. Um dos pontos mais comentados é o fato de o presidente norte-americano ter chamado as decisões brasileiras de “supostas determinações”, em razão de sua incongruência com o direito internacional e com as normas internas dos EUA.
Analistas da CNN Brasil, como Caio Junqueira e Lourival Santana, comentaram com visível desconforto os detalhes da carta, que foi recebida por Moraes, mas nunca divulgada oficialmente. Segundo os comentaristas, o documento representa uma crítica direta à atuação do ministro, revelando a fragilidade jurídica de suas determinações fora do território brasileiro.
Jurisdição e soberania: os limites da atuação internacional
O ponto central levantado por Trump e seus assessores é que nenhum país pode impor sua legislação sobre outro sem um acordo de cooperação legal. O princípio da soberania nacional, amplamente reconhecido pelo direito internacional consuetudinário, impede que decisões judiciais de um país sejam automaticamente executadas em outro sem o devido trâmite.
Trump destaca ainda que, nos Estados Unidos, há uma forte proteção à liberdade de expressão e que decisões judiciais estrangeiras que ferem esse princípio dificilmente serão reconhecidas.
Implicações políticas e jurídicas
A carta também sugere que o ministro brasileiro estaria ultrapassando os limites legais ao tentar aplicar no exterior decisões tomadas por tribunais brasileiros, sem o devido respaldo jurídico internacional. Para muitos juristas, trata-se de um episódio emblemático que escancara os riscos de abuso de autoridade e a necessidade de respeito aos mecanismos legais internacionais.
O caso de Alan dos Santos, pivô da controvérsia, é apenas um dos muitos episódios em que decisões do STF têm encontrado resistência fora do Brasil — especialmente quando confrontam os valores constitucionais de outros países.