Uma carta enviada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, está repercutindo internacionalmente após vir a público. O documento, elaborado em resposta a ordens judiciais brasileiras contra a plataforma Rumble, deixa claro: ordens expedidas por tribunais brasileiros não têm validade nos Estados Unidos sem o devido processo legal dentro da jurisdição americana.
O documento, assinado por autoridades norte-americanas com base em pareceres do escritório jurídico da Rumble nos EUA, apresenta um posicionamento firme sobre os limites da atuação de autoridades judiciais brasileiras fora do território nacional. O tom é respeitoso, mas incisivo – e, segundo especialistas, funciona como uma verdadeira aula de direito internacional ao ministro Alexandre de Moraes.
Resumo da carta: o que os EUA disseram a Moraes
A carta começa reconhecendo a existência de quatro documentos judiciais brasileiros que exigem que o Rumble:
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Bloqueie contas de um usuário específico;
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Interrompa transferências financeiras para esse indivíduo;
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Forneça dados sobre pagamentos anteriores;
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E cumpra essas ordens sob pena de sanções.
Em seguida, o governo dos EUA informa que não se pronuncia sobre a legalidade das ordens no Brasil, mas faz um alerta claro: qualquer tentativa de obrigar empresas sediadas nos EUA a cumprir decisões estrangeiras diretamente, sem processo judicial local, fere a soberania americana e o direito internacional consuetudinário.
A parte mais contundente: os EUA dando uma “aula de soberania” ao STF
“De acordo com o direito internacional consuetudinário, um Estado não pode exercer jurisdição para executar ordens no território de outro Estado sem o consentimento deste.”
A carta então cita a Lei de Relações Exteriores dos Estados Unidos (Reformulação nº 4) e jurisprudências norte-americanas para explicar que intimações, bloqueios ou ordens judiciais estrangeiras não têm efeito legal nos EUA sem o devido processo judicial local. Isso inclui:
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Abertura de processo em tribunal norte-americano;
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Reconhecimento da ordem por juízes dos EUA;
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Garantia de que o conteúdo da ordem não fira princípios constitucionais como a liberdade de expressão.
A carta ressalta ainda que o simples envio de uma ordem judicial estrangeira não obriga automaticamente sua execução nos Estados Unidos, e que a forma de entrega dos documentos também deve seguir tratados internacionais específicos, como a Convenção da Haia ou o Tratado de Assistência Judiciária Mútua Brasil-EUA (MLAT).
Liberdade de expressão em foco
Outro ponto central da resposta é a preocupação com a liberdade de expressão, protegida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA. O documento diz que mesmo que uma ordem estrangeira seja reconhecida por um tribunal americano, ela pode ser recusada caso conflite com princípios constitucionais norte-americanos, como o direito à livre manifestação.
Por que isso importa
A resposta americana reforça um limite claro às ações do STF fora do Brasil, especialmente em casos envolvendo redes sociais, censura e plataformas estrangeiras. O episódio reacende o debate sobre o alcance internacional das decisões do Supremo brasileiro e o impacto disso na imagem internacional do Brasil no campo da democracia e da liberdade de expressão.
Além disso, a carta revela os bastidores da disputa entre governos e plataformas digitais no mundo todo — e como decisões judiciais nacionais esbarram em regras e tratados internacionais quando extrapolam fronteiras.
📄 Leia a íntegra da carta traduzida em português no link abaixo:
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