O governo da Nicarágua decretou nesta segunda-feira o fechamento de 1.500 ONGs, a maioria delas de caráter religioso, conforme divulgado em uma resolução oficial. Esta ação representa a maior repressão contra organizações civis já promovida pelo presidente Daniel Ortega desde os protestos de 2018. De acordo com o Ministério do Interior, que publicou a decisão no diário oficial, o motivo do fechamento é que essas ONGs “não apresentaram suas demonstrações financeiras” por períodos que variam entre 1 e 35 anos, resultando na apreensão de seus bens pelo Estado.
Entre as entidades afetadas está a Nicabrás, a Câmara de Comércio Brasil-Nicarágua, que operava no país desde o início dos anos 2010. Devido à baixa atividade do grupo, seu fechamento não deverá ter grandes repercussões. Nesta segunda-feira, o Papa Francisco manifestou sua inquietação com a prisão de pelo menos 13 sacerdotes e dois seminaristas desde 20 de dezembro na Nicarágua, onde o regime de Daniel Ortega mantém uma relação conturbada com a Igreja Católica.
— Acompanho com grande preocupação os acontecimentos na Nicarágua, onde bispos e sacerdotes foram detidos — declarou o Papa durante a oração do Angelus na Praça de São Pedro, no Vaticano. — Manifesto minha solidariedade em oração a eles, suas famílias e à Igreja local. Convido todos aqui presentes, assim como todo o povo de Deus, a orar, esperando que o diálogo prevaleça para superar as dificuldades.
Pelo menos 13 sacerdotes foram detidos na Nicarágua, incluindo um bispo, segundo informações de religiosos, ativistas de direitos humanos, opositores e veículos de imprensa operados por jornalistas exilados na Costa Rica. O Papa Francisco já havia se pronunciado anteriormente sobre a perseguição religiosa no país, comparando o regime atual a uma “ditadura hitleriana”.
A relação entre a Igreja e Ortega se deteriorou durante os protestos de 2018, após o governo acusar os religiosos de apoiar os manifestantes. Dados da ONU indicam que mais de 300 pessoas perderam a vida durante esses confrontos. Uma investigação conduzida pela advogada Martha Molina, especialista em assuntos da Igreja nicaraguense e exilada nos Estados Unidos, revelou que desde 2018 ocorreram 740 ataques contra a Igreja, resultando na expulsão ou impedimento de retorno de 176 sacerdotes e religiosos ao país.
— Somente em 2023, houve 275 ataques. Podemos afirmar que este foi o ano com o maior número de agressões contra a Igreja nos últimos cinco anos — afirmou Molina ao jornal El País.