A transferência de Culpa: Um reflexo da queda que persiste até hoje.

Desde o Éden, a humanidade tem demonstrado uma tendência preocupante: a dificuldade de assumir seus próprios erros. Em Gênesis 3, após a desobediência, Deus confronta Adão e Eva, e ao invés de reconhecerem sua falha, ambos procuram transferir a culpa. Adão culpa Eva, Eva culpa a serpente, e assim começa um padrão que se perpetua até os dias de hoje.

A Resposta de Adão: “A Mulher Que Tu Me Deste”

Quando Deus questiona Adão sobre sua desobediência, sua resposta não é um arrependimento sincero, mas uma tentativa de se eximir da culpa: “A mulher que tu me deste por companheira, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3:12). Em uma única frase, Adão não apenas culpa Eva, mas também insinua que Deus tem responsabilidade pelo ocorrido. Ele prefere apontar para os outros em vez de reconhecer sua decisão própria de comer do fruto proibido.

Eva e a Serpente: A Culpa Sempre Tem um Outro Destino

Ao ser questionada, Eva segue o mesmo padrão: “A serpente me enganou, e eu comi” (Gn 3:13). Assim como Adão, ela transfere sua culpa para um terceiro, evitando assumir sua própria responsabilidade. Em nenhum momento vemos um reconhecimento imediato do erro. Não há confissão, apenas justificativas.

Outros Exemplos Bíblicos de Transferência de Culpa

Esse padrão se repete em diversas passagens das Escrituras:

Caim (Gênesis 4:9-10)

Quando Deus pergunta onde está Abel, Caim responde: “Sou eu guardador do meu irmão?” Em vez de assumir seu pecado, ele tenta desviar o foco da pergunta.

Saul (1 Samuel 15:13-15, 24)  Deus ordena a destruição completa dos amalequitas, mas Saul poupa o rei Agague e parte dos despojos. Quando confrontado por Samuel, ele diz que foi o povo quem decidiu agir assim, negando sua responsabilidade.

Arão e o Bezerro de Ouro (Êxodo 32:22-24)

Questionado por Moisés, Arão responde: “Tu conheces o povo, que é inclinado ao mal” e, de maneira quase absurda, diz que apenas jogou ouro no fogo e o bezerro saiu dali.

Pilatos (Mateus 27:24)

Mesmo tendo autoridade para libertar Jesus, Pilatos “lava as mãos”, tentando se isentar da culpa ao dizer que o sangue de Cristo não é responsabilidade sua.

A Falta de Arrependimento e a Misericórdia de Deus

O grande problema dessa atitude de transferência de culpa é que ela impede o verdadeiro arrependimento. Deus deseja um coração quebrantado, que reconhece o erro e busca mudança. Davi, por exemplo, nos dá um modelo oposto: ao ser confrontado por seu pecado com Bate-Seba, ele declara: “Pequei contra o Senhor” (2 Samuel 12:13), assumindo plenamente sua responsabilidade.

Conclusão:

Assumindo a Responsabilidade Diante de Deus

O padrão de Adão e Eva ainda se repete em nossa sociedade. Muitos justificam suas falhas culpando circunstâncias, pessoas ou até mesmo Deus. No entanto, a verdadeira transformação começa quando reconhecemos nossas falhas e nos voltamos para Deus com um coração sincero.

Que possamos aprender com esse episódio do Éden e buscar uma postura diferente: em vez de apontar dedos, reconhecer nossas falhas, nos arrepender e confiar na graça restauradora do Senhor.

Pastor Luciano Gomes

Teólogo