O capítulo 2 da carta de Tiago é um verdadeiro alerta para a Igreja de todos os tempos. O apóstolo, com sua linguagem direta e pastoral, trata de uma ferida que infelizmente continua aberta em muitas comunidades cristãs: o favoritismo.
Tiago não está falando apenas de boas maneiras ou etiqueta social. Ele está confrontando uma atitude que ofende o caráter de Deus e contraria os princípios do Evangelho: a discriminação dentro da casa de Deus.
O pecado do favoritismo nas reuniões cristãs
Logo nos primeiros versículos do capítulo 2, Tiago descreve uma cena que, tristemente, ainda é bastante comum:
“Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: ‘Aqui está um lugar apropriado para você’, mas disserem ao pobre: ‘Fique em pé ali’, ou ‘Sente-se no chão junto ao estrado onde coloco os meus pés’, não estarão fazendo discriminação e julgando com critérios errados?” (Tiago 2:2-4)
Essa atitude é mais do que uma falta de educação; é uma violação dos princípios do Reino de Deus. O favoritismo dentro da igreja revela uma visão distorcida de valor humano, baseada em aparência, status ou condição financeira.
Deus escolheu os pobres aos olhos do mundo
Tiago segue lembrando que Deus, em Sua soberania, escolheu os pobres aos olhos do mundo para serem “ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam” (v. 5).
Aqui é importante fazer uma observação: não se trata de uma acepção de Deus, como se Ele rejeitasse os ricos e aceitasse apenas os pobres. O que Tiago está destacando é uma realidade espiritual: os pobres, por sua condição de dependência, muitas vezes se aproximam de Deus com mais humildade, confiança e fé sincera.
Enquanto os ricos muitas vezes confiam em seus bens, poder e status, os pobres, por necessidade, aprendem a confiar plenamente em Deus. Essa é uma lição que serve para todos nós: o valor de uma pessoa não está em sua conta bancária, mas na sua disposição de viver uma fé genuína.
Uma advertência para as igrejas de hoje
Infelizmente, o que Tiago descreveu no primeiro século ainda acontece em muitas igrejas do século XXI. Quantas vezes vemos líderes, obreiros ou até membros comuns tratando de forma especial aqueles que têm posição social, cargos públicos, influência política ou financeira?
Quantos “lugares de honra” são reservados para quem aparenta ter mais poder aquisitivo? Quantas decisões dentro das igrejas são influenciadas por quem pode contribuir mais com ofertas ou construções?
Essa não é a fé que Deus aprova. Deus não faz acepção de pessoas. E a igreja que faz está pecando gravemente.
A verdadeira fé é acompanhada de justiça e igualdade
Tiago é enfático ao dizer que não podemos combinar fé em Cristo com práticas discriminatórias:
“Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas” (Tiago 2:1).
O chamado aqui é para vivermos uma fé que valorize a dignidade de todos os irmãos, independente de sua condição social, aparência ou posição na sociedade.
A verdadeira comunidade cristã é aquela onde o rico e o pobre se sentam lado a lado, onde o pastor e o recém-convertido têm o mesmo valor diante de Deus, onde o amor, a justiça e a misericórdia são vividos com integridade.
Conclusão: Que tipo de igreja estamos construindo?
Essa reflexão nos leva a algumas perguntas importantes:
Como estamos recebendo os visitantes em nossas igrejas?
Estamos sendo influenciados por aparência e status?
Temos dado preferência àqueles que podem nos oferecer vantagens humanas?
A fé verdadeira, segundo Tiago, é prática, justa e igualitária. Que o Espírito Santo nos conduza a sermos igrejas acolhedoras, onde cada pessoa, independente de sua condição, seja recebida com amor, dignidade e respeito.
Que possamos lembrar todos os dias que, aos olhos de Deus, todos somos igualmente necessitados da Sua graça.
Oração Final
Senhor nosso Deus e Pai,
Diante da Tua Palavra, reconhecemos que muitas vezes temos julgado e feito acepção de pessoas. Perdoa-nos, Senhor, por toda forma de favoritismo, preconceito e injustiça dentro da Tua casa.
Dá-nos um coração puro, que saiba enxergar o valor de cada ser humano criado por Ti. Ajuda-nos a construir uma igreja onde todos sejam bem-vindos, amados e respeitados, sem distinção.
Ensina-nos a praticar a verdadeira fé, acompanhada de justiça, igualdade e misericórdia.
Em nome de Jesus, nosso Senhor e Salvador, oramos.
Amém.
Pastor Luciano Gomes
Teólogo e colunista do portal Veja Aqui Agora