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A mentira de Cid golpeou o “golpe” que nunca existiu

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A delação premiada de Mauro Cid, que já foi vendida como o fio da meada que desataria os nós da “tentativa de golpe de Estado” atribuída a Jair Bolsonaro e seus aliados, acaba de sofrer um golpe mortal — e quem o desferiu foi o próprio delator. Ao mentir durante seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), negando o uso de redes sociais para tratar do caso, Cid não apenas comprometeu seu acordo de colaboração com a Justiça, como acendeu um alerta: até onde podemos confiar no que foi construído com base em suas palavras?

Não é exagero dizer que, nesse novo capítulo, a narrativa da tentativa de golpe começa a ruir. Ao ser confrontado com a existência do perfil @gabrielar702 no Instagram, usado para vazar bastidores da delação e criticar os investigadores, Mauro Cid titubeou, gaguejou e mentiu. E o que é pior: contrariou diretamente cláusulas expressas do acordo que firmou com Alexandre de Moraes. A consequência lógica e jurídica disso é a rescisão do benefício, mas o estrago político e simbólico é ainda maior.

O episódio lança uma sombra sobre a credibilidade da peça central de um processo que já foi rotulado de “o mais grave da história recente”. Se o principal delator da acusação omitiu, escondeu e mentiu ao tribunal, como confiar no restante do enredo? Como levar a sério as centenas de páginas construídas com base em suas declarações se, ao mesmo tempo, ele as desmentia em mensagens trocadas com aliados do ex-presidente?

O mais curioso é que Mauro Cid, em seus próprios relatos nas redes, parece zombar da Justiça. Ri dos advogados, ironiza ministros do STF, desdenha do devido processo legal. Em uma das mensagens, chega a dizer que Alexandre de Moraes “já tem a sentença pronta”. Em outra, fala que “só o Pacheco ou o Lira vai nos salvar” — deixando claro que, no seu entendimento, o jogo é político, e não jurídico. Se isso não é abuso da própria delação, o que seria?

Também chama atenção o fato de Cid afirmar que “nunca disse que Bolsonaro queria dar um golpe”, reforçando que tudo o que contou seriam bravatas, conversas de bastidor, lamentos e especulações. É praticamente admitir que colaborou com uma narrativa construída mais na emoção do que na prova — algo perigosíssimo para qualquer democracia.

Ora, se a acusação depende de uma delação que agora é questionada em sua integridade, o que sobra? Documentos? Sim. Gravações? Talvez. Mas mesmo essas, como o próprio STF sabe, só ganham força se estiverem devidamente contextualizadas e comprovadas. E se o contexto estiver contaminado por uma mentira no coração da investigação, a narrativa do “golpe de Estado” começa a parecer, ela mesma, uma construção retórica.

Não se trata de absolver ninguém antecipadamente. Mas é preciso ter coragem de dizer que a Justiça precisa se sustentar na verdade. E se a base dessa verdade foi corroída por interesses, pressões ou simplesmente oportunismo, então temos um problema muito maior do que a suposta conspiração de 2022. Temos a banalização da delação como instrumento político.

A mentira de Cid não é apenas uma contradição técnica. É um alerta moral, jurídico e institucional. E, ironicamente, ela golpeia justamente aquilo que buscava sustentar: a narrativa do golpe que, aos poucos, vai revelando não ter existido.

Jornalista (CRP/BA 0006663/BA), radialista (DRT 5072/BA) e youtuber. Como jornalista já atua há 10 anos e atualmente é diretor de jornalismo do Portal Veja Aqui Agora . Desde 1984, atua no rádio, começando sua trajetória na Rádio Fundação Ide e Ensinai, em São Gonçalo dos Campos, na Bahia. Também trabalhou na Radio Cultura AM, Carioca AM, Betel FM, Cidade FM. Foi diretor da Comunidade FM, todas em Feira de Santana e atualmente trabalha na Rádio Elos, onde apresenta o Programa Bom Dia Felicidade, de segunda a sexta-feira, das 10h ao meio dia, também na mesma cidade. Também dirigiu a Rádio Shekiná FM em Vinhedo São Paulo e trabalhou como apresentador na Jerusalém FM na capital paulista. Como youtuber, administra os canais “Veja Aqui Agora News”, com mais de 160 mil assinantes e “Edivaldo Santos News” com mais de 15 mil assinantes. Para contato: vejaaqui.agora@hotmail.com

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